O fascínio que leva o público a mergulhar em “Inventando Anna” é o mesmo que motivou a jornalista Vivian Kent, do “Times”, a investigar a intrigante história de Anna Sorokin. Trata-se de um caso relativamente recente: há apenas seis anos, Anna foi desmascarada, e seu julgamento ocorreu em 2019. Nascida na Rússia em 1991, Anna veio de uma família simples — o pai era caminhoneiro e a mãe, dona de casa. A família, que incluía também um irmão, mudou-se para a Alemanha em 2007. Antes de chegar a Nova York, onde sua saga tomou forma, Anna ainda passou por Londres e Paris.
É notável como uma jovem estrangeira conseguiu infiltrar-se tão rapidamente na elitista alta sociedade nova-iorquina, um círculo conhecido por ser extremamente exclusivo. Kent, ao argumentar junto à diretoria do jornal para investigar o caso, destacou essa façanha como um ponto crucial. Anna, sob o pseudônimo de Anna Delvey, construiu um elaborado teatro de mentiras: em suas histórias, ela era sempre uma herdeira milionária. Ora o pai era diplomata, ora um magnata das placas solares ou, até mesmo, um executivo do petróleo. Sua narrativa habilidosa a catapultou para os ambientes mais luxuosos: hotéis cinco estrelas, spas sofisticados, restaurantes badalados e salões de beleza exclusivos. Com charme e persuasão, convencia os amigos ricos a arcar com suas despesas, justificando que seu vasto patrimônio estava temporariamente inacessível em bancos estrangeiros.
No entanto, nenhum esquema fraudulento sobrevive indefinidamente; a ausência de riqueza real invariavelmente vem à tona. No caso de Anna, a verdade começou a desmoronar quando seus golpes acumulados atingiram a impressionante soma de US$ 275 mil. Foi então que ela foi presa. Antes disso, no entanto, quando ainda pairava o mistério em torno de quem realmente era Anna Delvey, Kent tomou a iniciativa de contar sua história. Intrigada com o anúncio do julgamento, a jornalista procurou o advogado da jovem em busca de uma entrevista. Após insistentes tentativas, Anna finalmente cedeu, permitindo que os detalhes de sua complexa farsa fossem revelados.
Ainda que a história real de Anna seja repleta de nuances e potencial dramático, a adaptação de Shonda Rhimes deixa a desejar em termos de densidade emocional e tensão narrativa. Diferentemente do impacto característico de outras obras de Shonda, como “Grey’s Anatomy” e “Scandal”, a série parece se aproximar mais do tom de produções voltadas para um público adolescente, como “Gossip Girl” ou “Elite”. Embora as atrizes principais entreguem performances notáveis, a falta de profundidade no roteiro dilui a gravidade da trama. É possível que Shonda tenha buscado trazer um toque moderno e leve à narrativa, refletindo o espírito consumista e aspiracional dos Millennials — um desejo frenético por ostentação e uma vida “instagramável”. Apesar disso, o suspense foi sacrificado, enfraquecendo a essência da história.
Ainda assim, “Inventando Anna” serve como um espelho para refletirmos sobre as escolhas que fazemos na busca por uma vida de aparência impecável. Até onde estamos dispostos a ir para construir uma existência digna de curtidas e seguidores? Essa é a verdadeira questão deixada pela trajetória de Anna Sorokin, uma farsa que vai além do entretenimento e expõe a inquietante superficialidade de uma era dominada pela obsessão por status e imagem.
Série: Inventando Anna
Criador: Shonda Rhimes
Ano: 2022
Gênero: Drama
Nota: 9/10