Indicado por Tarantino, o faroeste alucinante da Netflix que você vai querer assistir duas vezes Divulgação / Universal Pictures

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Roel Reiné entrega-se plenamente ao universo trash em “Inferno no Faroeste”, um conto de vingança ambientado no Velho Oeste, onde um fora da lei busca ajustar contas com os homens que o enviaram ao inferno mais sombrio. O diretor não se limita ao convencional, introduzindo elementos que intensificam o nonsense do enredo, criando uma atmosfera labiríntica de desespero. Guerrero, o protagonista destinado à danação eterna, carrega uma história singular: morto por seus próprios capangas, liderados por seu meio-irmão Red Cavanaugh, ele ganha uma chance de redenção concedida pelo próprio diabo. Essa relação familiar marcada por conflitos furiosos é o alicerce da narrativa, com Red representando tudo o que Guerrero não pode ser, intensificando o drama.

O roteiro, escrito por Brendan Cowles e Shane Kuhn, alterna cenas de Guerrero no domínio infernal e sua perseguição incansável a Red nos salões de Tombstone — um trocadilho mais eficaz em inglês, mas que não perde sua essência no contexto. As sequências de ação, minuciosamente coreografadas, combinam tiroteios intensos e explosões autênticas, sem o auxílio de computação gráfica, destacando a abordagem prática de Reiné. Essa escolha estilística, aliada à direção segura, mantém o público envolvido, mesmo entre aqueles menos inclinados às excentricidades do gênero.

Após a morte e descida ao submundo, Guerrero retorna transformado, e o filme abraça uma sequência de explicações que buscam justificar sua trajetória. Apresentado como um dos criminosos mais temidos da região, ele exibe traços que vão além de sua aparência — cabelos longos e escorridos e uma pele marcada pela dureza da vida — para refletir os conflitos sociais e pessoais que moldaram sua personalidade. Enquanto Guerrero sofreu diretamente o peso do preconceito e do estigma de ser mestiço, Red, branco e socialmente favorecido, parece ter esperado por toda a vida o momento de eliminá-lo. Essa oposição é aprofundada pelo fato de ambos compartilharem uma origem comum: o ventre de uma prostituta. Contudo, apenas Guerrero carrega as cicatrizes físicas e emocionais dessa realidade, transformando sua jornada em uma busca por reparação e vingança, ao mesmo tempo em que flutua entre o papel de anjo vingador e figura caótica.

Visualmente, Reiné imprime sua marca ao recriar um inferno austero, onde o sofrimento é pontuado por um forno colossal que consome os condenados e uma cadeira em que o diabo marca seus “hóspedes” com ferro em brasa. Mickey Rourke, em alta desde “O Lutador” (2008), assume com perfeição o papel do anfitrião infernal, mesclando autoridade e frieza. Contudo, a presença de Danny Trejo e Anthony Michael Hall adiciona uma camada extra de tensão, com ambos disputando, de maneira memorável, quem consegue ser o personagem mais repulsivo da trama.

No cerne de “Inferno no Faroeste”, encontra-se uma declaração apaixonada de Reiné aos faroestes que marcaram sua infância na Holanda. É uma obra autoral e nostálgica, que, mesmo permeada por exageros e elementos caricatos, revela um carinho genuíno pelo gênero. Essa devoção transparece em cada cena, tornando o filme, paradoxalmente, tão envolvente quanto peculiar.

Filme: Inferno no Faroeste
Diretor: Roel Reiné
Ano: 2013
Gênero: Faroeste/Terror
Avaliaçao: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★