Premiado em festivais internacionais de prestígio, indicado à cobiçada Palma de Ouro e principal aposta turca para o Oscar de 2020, “Milagre na Cela 7” é uma releitura do aclamado drama sul-coreano homônimo de 2013. Inserido em um contexto de renovação cinematográfica, o longa reflete uma era de renascimento para o cinema turco, marcada por produções que transcendem fronteiras e consolidam uma nova identidade artística no país, pós-Yeşilçam.
A era Yeşilçam, que correspondeu ao período de ouro do cinema turco entre as décadas de 1950 e 1970, destacou-se pelo volume expressivo de cerca de 300 filmes anuais, proporcionando entretenimento de massa e um fervor cultural inigualável. No entanto, com o aumento nos custos de produção e a concorrência internacional, essa indústria florescente enfrentou um declínio acentuado. Nos últimos anos, porém, o país testemunha uma impressionante revitalização do setor, tanto em qualidade quanto em alcance global.
“Milagre na Cela 7”, dirigido por Mehmet Ada Öztekin e roteirizado por Özge Efendioglu e Kubilay Tat, emerge como um marco dessa retomada. O filme conquistou uma resposta calorosa de público e crítica, refletida em uma pontuação de 8,3 no IMDb e 85% de aprovação no Rotten Tomatoes. Mais do que números, a obra se consolidou como um fenômeno emocional, com performances intensas que conduzem o espectador por uma montanha-russa de sentimentos.
A trama é uma narrativa de injustiças e perseverança, protagonizada por Memo, interpretado magistralmente por Aras Bulut İynemli. Memo é um homem com deficiência intelectual que exibe o comportamento inocente de uma criança, sendo o pai dedicado de Ova, vivida por Nisa Sofiya Aksongur. A relação entre os dois é profundamente tocante, construída com uma autenticidade que transcende a tela. Para Ova, Memo não é diferente dos outros adultos; ele é simplesmente único, um reflexo de sua pureza infantil. A ligação entre pai e filha é a força motriz de toda a narrativa, sustentada por interpretações genuínas e comoventes de todo o elenco.
O ponto de virada na história ocorre quando Memo, determinado a realizar o desejo de sua filha de ter uma mochila específica, tenta adquiri-la para ela. No entanto, a peça já foi comprada por Seda, filha de um general. Após um mal-entendido, Memo é agredido pelo militar, e a situação rapidamente se transforma em um pesadelo. Dias depois, um encontro casual com Seda nas montanhas resulta em um trágico acidente, e Memo é acusado injustamente de assassinato. A partir desse momento, o filme mergulha em uma sequência de eventos dolorosos, enquanto Memo enfrenta o peso de uma condenação injusta, e Ova, apesar de sua tenra idade, se empenha em provar a inocência do pai.
A produção aposta em uma estética melodramática, intensificada por uma trilha sonora envolvente e momentos carregados de emoção. Embora o roteiro ocasionalmente exagere no sofrimento imposto ao protagonista, as atuações elevam a experiência, transmitindo com profundidade as dores e esperanças de cada personagem. Aras Bulut İynemli entrega uma performance que transcende palavras, capturando a fragilidade e a força de Memo com um equilíbrio impressionante.
Se você aprecia dramas que envolvem e desafiam emocionalmente, “Milagre na Cela 7” é uma escolha imperdível. Prepare-se para uma história que não apenas emociona, mas também deixa uma marca duradoura, convidando à reflexão sobre a injustiça, o amor incondicional e a resiliência humana.
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