A heroica Revista Bula, em mais um serviço de utilidade pública, apresenta a sua lista dos dez mais procurados supervilões das histórias em quadrinhos. Usamos na elaboração dessa seleção dados ultrassecretos disponíveis no bat-computador, nos arquivos da SHIELD, da Interpol e no SPC. Vale ressaltar que não incluímos entidades cósmicas como Beyonder, Mephisto (o diabo da Marvel), Trigon (o Diabo da DC) e Galactus (ele não tem culpa de seu nutricionista incluir planetas em sua dieta). Portanto, queridos leitores, se encontrarem algum desses indivíduos na rua, no espaço ou em outras dimensões, não tente enfrentá-los. Deixe profissionais cuidarem disso. Liguem para o Moro.
O Palhaço do Crime é o maior vilão dos quadrinhos de todos os tempos, como pode ser comprovado em clássicos do porte de “Cavaleiro das Trevas”, de Frank Miller, e “A Piada Mortal”, de Alan Moore e Brian Bolland. Coringa é o Che Guevara dos vilões: campeão em vendas de camisetas, totalmente sem remorsos, dono de letal instinto assassino e desapegado da realidade. A criação do personagem foi inspirada em uma novela de Victor Hugo, “O Homem que Ri”, de 1869, adaptada para o cinema em 1928, com direção de Paul Leni e tendo Conrad Veidt interpretando o risonho do título. Curiosamente, também foi no audiovisual que Coringa alcançou o status de superstar do crime. Primeiro com a performance histriônica do galã latino César Romero e seu bigode pintado de branco na famigerada série de televisão do Homem Morcego da década de 1960. Depois pegando carona no carisma monstruoso de Jack Nicholson interpretando “Jack Nicholson com o rosto pintado de branco e cabelos verdes” no filme “Batman”, de Tim Burton, de 1989. A dublagem de Mark Hamill, o Luke Skywalker em pessoa, na soturna série animada da década de 1990 também foi marcante. No filme “Cavaleiro das Trevas”, de Christoper Nolan, de 2008, testemunhamos o surgimento da versão definitiva do personagem, com a atuação alucinada de Heath Ledger. A imagem do Coringa é tão poderosa que nem a versão rapper retardado de Jared Leto que vimos no esquecível “Esquadrão Suicida” foi capaz de abalar sua popularidade. Rir é o melhor remédio.
O fleumático e elegante Doutor Destino certamente considera o Coringa uma criatura desprezível, indigna de sua atenção. Mesmo assim fica com o segundo lugar, uma vez que perde em popularidade para o Palhaço do Crime. Nunca teve uma versão audiovisual digna de sua majestade, genialidade e perfídia. Em compensação é o maior dos vilões da respeitável galeria Marvel. O Doutor Destino, pseudônimo pelo qual é conhecido o cigano Victor Von Doom, ditador do reino europeu da Latvéria, o que lhe dá imunidade diplomática, é uma das maiores mentes do planeta. Seus dons para a ciência e construção de máquinas de guerra rivaliza com os do Homem de Ferro, ao mesmo tempo em que é um mestre das artes místicas, só superado pelo Doutor Estranho. Apenas seu ódio cego por Reed Richards, o Senhor Fantástico, líder do Quarteto Fantástico, e seu orgulho desmedido é capaz de derrotá-lo. Geralmente é o que ocorre, como podemos ver nas “Guerras Secretas” e na inesquecível fase do Quarteto Fantástico escrita e desenhada pelo mestre John Byrne.
Mais do que apenas um supervilão, Magneto é um ativista político que não mede consequências para alcançar seus objetivos, os quais considera justos e dignos. Portanto, sua condição de “vilão” é uma questão de ponto de vista e organização das instituições legais. Não é por acaso que a entidade cósmica Beyonder o escalou para lutar ao lado dos heróis durante as “Guerras Secretas”. Inspirado na luta dos negros por direitos civis, o ativismo mutante de Magneto espelha a atuação belicosa de Malcolm X, enquanto seu amigo e rival Professor X representa o pacifismo de Martin Luther King. Vale destacar que Magneto teve dois atores brilhantes dividindo o personagem no cinema, o acavalado Michael Fassbender e o militante pela causa gay sir Ian Mckellen, o homem que também foi o mago Gandalf e usa uma camisete lembrando isso a todos. Isso sim é sambar na cara da sociedade preconceituosa.
“A maior mente criminosa de nosso tempo”. Era assim que Lex Luthor se definia no clássico “Super-Homem, o Filme” (1978), de Richard Donner. O carisma do ator Gene Hackman salva essa versão do personagem, exageradamente cômica. Funciona no filme, mas expõe o fato de que Lex Luthor nunca foi uma figura muito bem definida no panteão dos grandes vilões da DC. Começou como um simples cientista louco. Décadas depois tornou-se um tipo de Homem de Ferro usando uma armadura verde para lutar contra o Super-Homem. Apenas na década de 1980 John Byrne estabeleceu sua versão definitiva, como um magnata inescrupuloso, genial e filantropo acima de qualquer suspeita, que se considera dono de Metrópoles. O surgimento do Homem de Aço expõe sua fraqueza humana, colocando em xeque sua posição na cidade e no mundo. E esse Lex Luthor alucinado e ambicioso se torna presidente dos Estados Unidos. A arte imita a vida.
Sim, dois personagens pelo preço de um. Darkseid e Thanos se confundem e se mesclam. Na prática, Thanos é o Darkseid da Marvel. A primazia é de Darkseid, que foi criado pelo lendário Jack Kirby em 1970. Jim Starlin, claramente inspirado em Darkseid, criou Thanos em 1973. Ambos são déspotas espaciais, ambos querem destruir a Terra, ambos possuem obsessões amorosas esdrúxulas: a maior ambição de Darkseid é se casar com a Mulher Maravilha, Thanos quer matar todos as criaturas vivas para agradar seu amor, a Morte personificada, com carinha de caveira e tudo. Quem venceria em um duelo? Creio que Thanos, desde que estivesse de posse da Manopla do Infinito. Se ambos estiverem com mãos limpas, apenas com suas habilidades inatas, daria Darkseid, que tostaria o rival com seus raios ômega.
O homem mais rico, mais bonito, mais inteligente, mais generoso, mais elegante, mais habilidoso, mais ágil, mais atlético e mais articulado do planeta. Quem poderia imaginar ser ele o vilão por trás dos eventos catastróficos apresentados na mais prestigiada história em quadrinhos de todos os tempos, “Watchmen”, do mago Alan Moore e seu “sidekick” David Gibbons. O plano de Ozimandias, ou Adrian Veidt (alguém lembrou do Coringa?), foi sacrificar milhões de pessoas numa simulação de invasão alienígena como forma de forçar as nações do mundo a se unirem contra um inimigo comum. Os fins justificam os meios? O mais incrível é que o plano deu certo. Ou alguém acha que alguém vai dar atenção para as denúncias de um tabloide contra o homem mais rico, mais bonito, mais inteligente, mais generoso, mais elegante, mais habilidoso, mais ágil, mais atlético e mais articulado do planeta?
O Lex Luthor redefinido por John Byrne deve muito a figura de Wilson Fisk, o Rei do Crime da Marvel. A diferença entre eles é basicamente uma: Lex Luthor consegue se fazer passar por uma pessoa respeitável, enquanto o Rei do Crime é reconhecidamente o Poderoso Chefão do submundo de Nova York. Sua figura física é imponente: gigantesco, calvo, obeso, muito forte, ágil, sempre elegantemente trajado. Não precisa levantar o tom de voz para se fazer respeitar em meio a escória da cidade. Teve dois interpretes respeitáveis na TV e no cinema: o negro Michael Clark Duncan e o caucasiano Vincent D’Onofrio (que já foi Thor e quase ninguém lembra). Apesar de estar envolvido em todas as escalas do crime, o Rei raramente é alcançado pelos agentes da lei, o que enfurece o abnegado e devoto advogado cego Matt Murdock, o Demolidor. E foi descobrindo e revelando a identidade secreta do Demolidor que Wilson Fisk teve seu maior momento nos quadrinhos, na saga realista “A Queda de Murdock”, de Frank Miller e David Mazzucchelli. Vida longa ao Rei, porque sem ele, como ficou provado, o submundo sai do controle. Ruim com, pior sem.
Há uma teoria que versa sobre a equivalência entre a galeria de vilões do Batman e do Homem-Aranha. A Mulher-Gato seria a Gata Negra, o Pinguim seria o Doutor Octopus, o Crocodilo seria o Lagarto e, principalmente, o Coringa seria o Duende Verde. Não por acaso, foi o ator perfeito para interpretar o Palhaço do Crime, Willem Dafoe (que deveria ter encarnado o personagem no lugar de Jack Nicholson em 1989), que acabou vivendo o arquirrival do “Amigo da Vizinhança” no filme “Homem-Aranha” (2002), dirigido por Sam Raimi, numa versão meio “malvado de Power Rangers”. Sem capacete, tenho certeza, Willem Dafoe seria mais assustador. Mas o Duende Verde não é apenas um Coringa genérico, é um dos piores gênios do mal do universo Marvel. Cometeu os piores crimes, praticou as mais tenebrosas ações, incluindo a pior de todas, lançar para morte a doce e bela Gwen Stacy. Peter, não foi você, Peter, a culpa foi do Duende Verde!
O ardiloso meio-irmão de Thor ganhou muita popularidade no cinema, com a boa mas não perfeita atuação de Tom Hiddleston, numa versão anti-herói que não faz jus ao maligno personagem dos quadrinhos, baseado no deus da trapaça da mitologia nórdica. Filho adotivo do deus Odin, sendo na verdade um gigante do gelo, Loki domina as artes mágicas e pode assumir a forma que desejar. Seu ódio por Thor o faz se voltar contra a humanidade que o Deus do Trovão jurou proteger. É tão perigoso que a primeira vez em que os Vingadores se reuniram foram para combater uma ameaça criada por ele. Somente o poder reunido de diversos super-heróis conseguiram derrotar o Deus da Trapaça.
Certamente, uma escolha polêmica. No lugar do pouco popular Exterminador poderiam estar aqui figuras sinistras como o ex-lanterna verde Sinestro, Duas-Caras, Doutor Octopus, os monstruosos Abominável e Apocalypse, ou mesmo o autômato Ultron (uma inteligência artificial é mesmo um vilão?). Mas optei por escolher o Exterminador para fechar a lista por conta do seu admirável currículo. Com suas habilidades ampliadas por um processo semelhante ao do famigerado projeto supersoldado que criou o Capitão América, o Exterminador é o mais caro e letal mercenário do mundo, grande estrategista e um dos maiores lutadores da DC. Sozinho conseguiu derrotar a Liga da Justiça e já aplicou surras homéricas em Batman. Certamente, Slade Wilson, o verdadeiro nome do Exterminador, merece muito respeito. E não vamos nos esquecer que o escrachado Deadpool é uma sátira ao Exterminador. Tem quem gosta…