“Uma Confeitaria para Sarah” não é apenas um drama sobre bolos e receitas. O título engana ao insinuar que Sarah é o centro da narrativa, mas, ironicamente, ela não está mais presente. Sarah morreu. Ainda assim, sua ausência se manifesta de forma onipresente, assombrando aqueles que a amavam: sua filha Clarissa (Shannon Tarbet), sua mãe Mimi (Celia Imrie) e sua melhor amiga Isabella (Shelley Conn). Três mulheres em fases diferentes da vida, cada uma lidando com a perda de maneira singular, tentando encontrar sentido em um mundo desprovido da presença que as unia.
A morte de Sarah deixou feridas profundas. Mimi, uma ex-acrobata circense, perdeu não apenas a filha, mas também parte de sua coragem. Isabella, antes companheira inseparável de Sarah, agora luta para preencher o vazio deixado pela amiga. Clarissa, jovem e cheia de dúvidas, carrega o peso de uma orfandade que vai além do biológico. Separadas pela dor, essas três mulheres encontram uma chance de reconstrução ao decidir abrir a confeitaria que Sarah tanto sonhava.
O desafio, porém, não é pequeno. Logo na primeira semana, o negócio não atrai clientes suficientes para cobrir os custos. Mimi, acostumada a grandes plateias em seus dias de glória no circo, sente o gosto amargo do fracasso iminente. No entanto, sua resiliência fala mais alto. Observadora nata, ela percebe que o que falta ao empreendimento é a essência multicultural de Londres. Assim, surge a ideia: transformar a confeitaria em um espaço que reflita a diversidade da cidade, com doces inspirados em receitas de diferentes culturas.
Com a ajuda de Matthew (Rupert Penry-Jones), um confeiteiro talentoso, Mimi, Isabella e Clarissa iniciam uma jornada não apenas culinária, mas também emocional. Cada novo doce é uma ponte para o passado, uma forma de se reconectar com memórias, dores e esperanças. Enquanto enfrentam desafios financeiros e pessoais, Clarissa decide investigar a identidade de seu pai biológico, um mistério que poderá mudar sua percepção sobre si mesma e sobre a história de sua família.
Este filme marca a estreia de Eliza Schroeder na direção de longas-metragens, uma estreia marcada por uma perda pessoal significativa: a morte de sua mãe, Sonja, durante as filmagens. A dor real se entrelaça com a ficção, e Schroeder aproveita essa experiência para construir uma narrativa sensível sobre luto, legado e a força feminina. Mimi, com sua força obstinada e seu carisma resiliente, é uma homenagem direta à avó da diretora, reforçando o tom autobiográfico que permeia a obra.
“Uma Confeitaria para Sarah” não se limita a ser um drama leve. Ele transita entre momentos de tensão, tristeza e humor, compondo um mosaico emocional que reflete a complexidade das relações humanas. A cidade de Londres, com sua vibrante diversidade cultural, não é apenas pano de fundo, mas um personagem ativo. Schroeder pinta a capital inglesa como um lugar onde histórias se entrelaçam e estrangeiros encontram um lar, criando comunidades a partir da conexão compartilhada em torno de algo tão simples e universal quanto a comida.
A confeitaria se torna, então, um microcosmo dessa Londres acolhedora, onde pessoas de diferentes origens se sentem vistas e ouvidas. Entre receitas e segredos desvendados, Clarissa, Mimi e Isabella redescobrem a si mesmas e umas às outras, formando laços que transcendem a perda inicial. O filme, em sua essência, celebra a resiliência humana e a capacidade de recomeçar mesmo nas circunstâncias mais adversas, oferecendo uma narrativa que aquece o coração e convida à reflexão sobre amor, perda e pertencimento.
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