Protagonizado pelo aclamado Christopher Walken, vencedor do Oscar, “Uma Voz Contra o Poder” é um drama judicial dirigido por Clark Johnson, lançado em 2020. O roteiro, adaptado por Garfield Lindsay Miller, Hilary Pryor e Maureen Dorey, narra a impressionante batalha legal enfrentada por Percy Schmeiser (Walken), um agricultor canadense que se viu no centro de uma disputa histórica com a multinacional Monsanto, uma das maiores empresas de biotecnologia agrícola do planeta. O conflito surgiu quando genes de sementes transgênicas de canola foram detectados nas plantações de Schmeiser, desencadeando um processo judicial sem precedentes que alcançou a Suprema Corte, redefinindo diretrizes no setor agrícola.
A Monsanto, famosa por seu histórico controverso, esteve envolvida em projetos polêmicos, como a produção do agente laranja durante a Guerra do Vietnã, além de pesticidas e herbicidas como o RoundUp, amplamente criticados por ambientalistas devido aos seus riscos à saúde pública e ao meio ambiente. Embora o caso de Percy tenha ganhado atenção mundial, ele não foi um incidente isolado: inúmeros outros agricultores enfrentaram processos semelhantes, sendo obrigados a desembolsar somas milionárias para a Monsanto.
Percy contou com o apoio incansável de sua esposa Louise (Roberta Maxwell), do advogado Jackson Weaver (Zach Braff) e da jornalista Rebecca Salcau (Christina Ricci). Weaver, embora comprometido, não era páreo para os advogados de elite financiados pelo poder econômico da Monsanto. O filme expõe essa desproporcionalidade, destacando o embate desigual entre um pequeno agricultor e uma corporação gigantesca. Percy resume bem essa situação ao afirmar que, nos tribunais, ele nunca encontrou um “João Monsanto”, mas sim uma equipe jurídica representando interesses corporativos. Não se tratava de um litígio pessoal, mas de uma disputa entre o poderio financeiro de uma multinacional e a resistência de um único indivíduo.
O processo foi longo e tortuoso, arrastando-se entre 1998 e 2001, gerando debates acalorados entre agricultores, mobilizando ambientalistas e chamando a atenção da mídia global. Antes de ser considerado um herói, Percy enfrentou a desconfiança de seus pares, muitos dos quais acreditavam na narrativa da Monsanto de que ele obtinha vantagem injusta ao não pagar pela licença de uso das sementes. A empresa alegava que isso prejudicava a concorrência no mercado, alimentando a hostilidade entre os produtores.
A controvérsia sobre a biotecnologia agrícola é complexa, especialmente para leigos. No entanto, uma coisa ficou clara: a presença das sementes transgênicas na fazenda de Percy poderia ter ocorrido por fatores naturais, como ventos transportando sementes de propriedades vizinhas, ou até por simples acidentes, como um saco rasgado na carroceria de uma caminhonete. A hipótese de uso intencional foi contestada, mas o custo para Percy foi desproporcional, considerando que ele não implantou deliberadamente o produto patenteado.
O filme, no entanto, vai além de questões técnicas, explorando principalmente a ganância corporativa. A Monsanto, antes de ser adquirida pela gigante farmacêutica Bayer em 2018 por US$ 63 bilhões, já dominava o mercado global de sementes geneticamente modificadas, sendo uma das seis empresas responsáveis por toda a produção e comercialização desse segmento. Embora Percy tenha enfrentado derrotas em diversas instâncias, seu caso tornou-se um símbolo de resistência popular. Apesar de não obter a decisão judicial ideal, ele provou que mesmo o indivíduo mais comum pode enfrentar e expor as práticas predatórias das elites econômicas.
Esse drama, além de ser uma reflexão sobre poder e injustiça, lança luz sobre a complexa relação entre agricultura e biotecnologia, destacando a importância de questionar as motivações das grandes corporações. “Uma Voz Contra o Poder” é, acima de tudo, uma história de coragem, inspirando aqueles que acreditam na luta por justiça, mesmo diante de forças aparentemente intransponíveis.
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