Entre os grandes nomes de Hollywood, Steven Spielberg se destaca como um mestre em equilibrar uma visão empresarial precisa, capaz de gerar lucros estratosféricos, com a habilidade de narrar histórias que, à primeira vista, desafiam a lógica. O cineasta não apenas explora temas científicos com profundidade, mas também reveste suas obras de um apelo quase universal, mesmo ao abordar ideias ousadas ou absurdas. “Jurassic World — O Mundo dos Dinossauros” dá continuidade a essa fórmula, alinhando-se com sucessos como “E.T. — O Extraterrestre” (1982), “A.I. — Inteligência Artificial” (2001) e a icônica saga do arqueólogo Indiana Jones. Mesmo adaptações como “A Guerra dos Mundos” (2005), baseada no clássico de H.G. Wells, dialogam com essa tradição, contrastando o acolhimento ao “outro” de “E.T.” com a rejeição visceral que marca o enredo alienígena, enquanto insinuam as contradições humanas em contextos de destruição mútua.
No entanto, em “Jurassic World: Domínio”, resta pouco da essência literária de Michael Crichton, cujas histórias Spielberg inicialmente absorveu e transformou. Surpreendentemente, isso não compromete a experiência. Colin Trevorrow reinventa o universo da franquia ao introduzir novos personagens e subtramas, oxigenando o legado spielberguiano. O filme resgata elementos clássicos, como a emblemática cena da grua deslizando pelo nicho dos dinossauros, acompanhada pela trilha nostálgica de Michael Giacchino, que evoca memórias dos espectadores que, há três décadas, se encantaram com o primeiro “Jurassic Park”.
Em “Jurassic World — O Mundo dos Dinossauros” (2015), Bryce Dallas Howard, no papel de Claire Dearing, tenta salvar seus sobrinhos cercados por velocirraptores, entregando uma sequência que, embora previsível, se destaca pela construção de tensão e dinamismo. Já em “Domínio”, o diretor e seus corroteiristas, Emily Carmichael e Derek Connolly, elevam o desafio ao reunir personagens icônicos como Ian Malcolm (Jeff Goldblum), Ellie Sattler (Laura Dern) e Alan Grant (Sam Neill) com a nova geração interpretada por Howard e Chris Pratt. O equilíbrio entre os veteranos e os novatos é uma disputa constante pela atenção do público, evidenciando que a franquia busca renovar-se sem abandonar suas raízes.
O personagem de Pratt, Owen Grady, introduz nuances éticas à narrativa, provocando reflexões sobre os limites da ciência, as consequências da manipulação genética e a coexistência entre humanos e dinossauros. Embora essas temáticas não sejam abordadas com o mesmo rigor que em “Jurassic Park — Parque dos Dinossauros” (1993), elas sustentam a relevância da franquia. Afinal, franquias, por natureza, são autorreferenciais, e Trevorrow parece compreender isso ao construir um espetáculo que homenageia o passado enquanto abre novas possibilidades. O resultado é um filme que, embora não reinvente a roda, reafirma a força de um universo cinematográfico que continua a fascinar gerações.
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