Suspense perfeito para leitores ávidos que o mundo não conseguiu parar de ver: 39 dias seguidos no Top 10 da Netflix Scott Garfiel / Netflix

Suspense perfeito para leitores ávidos que o mundo não conseguiu parar de ver: 39 dias seguidos no Top 10 da Netflix

A condição humana está inevitavelmente ligada à solidão. Desde o nascimento até o último suspiro, estamos essencialmente sós. Aqueles que percebem essa realidade cedo entendem que transformar momentos compartilhados em experiências memoráveis exige esforço consciente. Paradoxalmente, mesmo quando o interesse mútuo é ausente, a maioria se sente impelida a ajustar-se a normas sociais, apagando temporariamente suas inquietações e excentricidades. No entanto, não se trata apenas de desespero: ocasionalmente, a sorte permite encontros raros e extraordinários, onde o prazer de existir é compartilhado por quem reconhece na vida uma matéria moldada por desafios e resiliência.  

Solidão não é simplesmente o desejo de estar sozinho; ela se impõe em momentos cruciais, sejam de figuras renomadas ou anônimas. Em ocasiões assim, o afastamento é vital para conquistas significativas. É necessário desapegar-se do excesso para lembrar-se do essencial. Este processo introspectivo pode ser doloroso, forçando a reconhecer-se vulnerável, uma prática de sobrevivência quase cirúrgica, como amputar o que está deteriorado para permitir que a vida volte a pulsar com força renovada.  

“O Pálido Olho Azul” transcende a típica narrativa de suspense, equilibrando mistério e profundidade emocional. Sob a direção de Scott Cooper, a obra revive o interesse por Edgar Allan Poe ao investir nos detalhes que seduzem pela estética visual e pela densidade verbal. A cinematografia de Masanobu Takayanagi reforça essa visão, transportando o espectador para o sombrio Vale do Hudson em 1830, onde a neve e o frio extremo não apenas ambientam a trama, mas intensificam sua atmosfera lúgubre.  

A sagacidade literária de Poe é essencial para desvendar o mistério, e ao solucionar o enigma inicial, Cooper habilmente foca na dinâmica entre Augustus Landor e o jovem escritor. Harry Melling entrega uma performance arrebatadora, oscilando entre humor e tragédia ao se conectar com o personagem de Christian Bale. À medida que o desfecho do crime se aproxima, somos guiados pela dor de Poe, cuja inspiração em “Lenore” é lindamente representada na interação com Lea Marquis, interpretada por Lucy Boynton. Essa cena sintetiza a angústia poética de Poe e reforça o simbolismo do título.  

Adaptado do romance de Louis Bayard, o roteiro de Cooper se utiliza do ambiente gelado para amplificar o impacto emocional da narrativa. Takayanagi captura o público numa atmosfera de tensão e misticismo, permitindo que Cooper desenvolva a complexidade de seu enredo ao longo de mais de duas horas. A recém-inaugurada Academia Militar de West Point torna-se o palco de um mistério macabro: o corpo de um cadete é encontrado em circunstâncias suspeitas, e o que inicialmente parecia um suicídio se revela um homicídio meticulosamente planejado.  

Augustus Landor, vivido por Bale, é chamado para investigar o caso. Recluso desde que sua filha fugiu com um amante, ele encontra um aliado improvável em Poe, um jovem cadete apaixonado pela poesia. O enredo combina o método meticuloso do assassino com a genialidade literária de Poe, oferecendo um suspense envolvente e uma reflexão profunda sobre a solidão e a busca pelo sentido em meio ao caos.

Filme: O Pálido Olho Azul
Diretor: Scott Cooper
Ano: 2022
Gênero: Mistério/Thriller
Avaliaçao: 9/10 1 1
★★★★★★★★★