Christina Milian está se tornando a nova musa das comédias românticas. Esta é a conclusão a que se chega ao se observar as escolhas da atriz há pouco mais de uma década, desde “Natal no Globo de Neve” (2013), dirigido por Jodi Binstock — a propósito, as festas de fim de ano também têm sido uma regra em sua carreira. No recente “Sintonia de Natal” (2024), levado à tela por Rusty Cundieff, Milian inaugura a vasta temporada de produções natalinas da Netflix com uma história sobre uma mulher que pensa estar num relacionamento respeitoso e fiel com o homem de seus sonhos, até que seu castelo de ilusões derrete.
Pelo visto, se os realizadores de Hollywood vêm nela alguém capaz de encarnar o tal espírito de congregação do Natal, a atriz lhes instiga também a aura do amor confuso, aflito, bastante nítida em “Amor em Obras”. Decerto uma grife no gênero, Roger Kumble extrai do roteiro anguloso de Hilary Galanoy e Elizabeth Hackett aspectos que enalteçam a amável figura de Milian como uma mulher corajosa, disposta a abandonar um namorado que não a assume e finalmente partir para a Nova Zelândia, onde começa tudo outra vez, do zero, experimentando contratempos para além de uma paixão súbita.
Homens estão sempre dizendo o que Gabriela Diaz, a personagem de Milian, deve fazer. A moça chega para mais um dia de trabalho pilhada, com cafeína no sangue o suficiente para manter funcionando todos os dispositivos eletrônicos de uma casa, e aproveita tamanho vigor para organizar uma reunião com o chefe e os acionistas da empresa onde trabalha como consultora de sustentabilidade. Há algum tempo, ela tem um projeto sobre abastecimento de residências com energia solar, mas vai ter de moderar seu entusiasmo, uma ves que seus superiores preferem dar a vez a um grupo de empresários homens mais conservadores, que preferem imóveis híbridos.
Para completar, Gabz passado por sucessivas crises com Dean Conner, o namorado vivido por Jeffrey Bowyer-Chapman, e ao fim de uma dessas, resolve, mesmo com o coração sangrando, colocar um ponto final. Entre uma e outra garrafa de vinho, um site com uma tentadora oferta desperta sua atenção: alguém anuncia uma pousada em Beachwood Downs, um vilarejo nas imediações de Auckland, na Nova Zelândia, a cerca de 650 quilômetros da capital, Wellington, em troca de uma redação de enxutas quatrocentas palavras sobre por que deve ser o escolhido. É agora ou nunca.
Experiente, ainda que nem sempre imune a enganos como os repetidos em “Belo Desastre – O Casamento” (2024), Kumble, elabora bem o mote que justifica o longa, aproveitando para incluir no leito da história um ou outro dos muito talentosos coadjuvantes. As idas e vindas até que a pousada torne-se o palacete visto na sequência final cansam um pouco, mas Gabz e Jake Taylor, o enlutado morador local, do australiano Adam Demos, valem a infinita espera. Aqui, nunca fez tanto sentido a máxima que diz que o amor é uma construção diária.
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