“Postais Mortíferos” (2010), escrito por James Patterson em colaboração com Liza Marklund, ocupa um lugar questionável no cânone literário do autor. Com uma narrativa que promete mistério, mas entrega reviravoltas previsíveis e soluções convenientes, o livro exemplifica uma abordagem funcional de entretenimento rápido, mas que falha em transcender as limitações do gênero. A adaptação cinematográfica, dirigida pelo sérvio Danis Tanovic, tenta preencher lacunas narrativas evidentes, mas o resultado é um esforço desigual.
No universo de Patterson, personagens icônicos como Alex Cross, imortalizado por Morgan Freeman em “Beijos que Matam”, tornaram-se referência. Aqui, no entanto, o protagonista Jacob Kanon, interpretado por Jeffrey Dean Morgan, não alcança a mesma profundidade. Kanon é um detetive do Departamento de Polícia de Nova York, obcecado por capturar o responsável pela morte brutal de sua filha e genro. A busca, que poderia evocar emoções complexas, resulta numa trama rasa e linear, guiada mais pela necessidade de deslocamento geográfico do que por uma narrativa convincente.
A estrutura do filme gira em torno da perseguição de Kanon, que viaja por cidades como Londres, Madri, Amsterdã, Munique, Estocolmo e Bruxelas, seguindo rastros deixados pelo assassino. Este, por sua vez, comete crimes teatralizados, envolvendo referências artísticas que deveriam adicionar camadas ao suspense. Em uma cena, um casal gay é morto em alusão a “Dante e Virgílio no Inferno”, de William-Adolphe Bouguereau. Outras obras, como as mulheres fragmentadas de Willem de Kooning e o “Beijo na Janela” de Edvard Munch, são mencionadas, criando um vínculo interessante entre arte e crime. Contudo, a promessa de um vilão multifacetado e sagaz não se concretiza.
O detetive de Morgan é apresentado como um homem marcado pela dor, mas a construção de seu arco emocional é superficial. As nuances de sua perseguição, que poderiam explorar a complexidade do luto e da justiça pessoal, perdem-se em diálogos pouco inspirados e em uma montagem que prioriza ação em detrimento de tensão psicológica. A jornada internacional, que poderia conferir um senso de urgência global, parece apenas uma desculpa para cenários exóticos que não agregam à história.
Embora “Postais Mortíferos” busque inspiração em elementos artísticos e referências culturais, a narrativa tropeça em clichês. Os crimes, por mais chocantes que sejam, carecem de impacto duradouro. A investigação, que deveria surpreender, é frustrantemente previsível. A sensação de que “nada é o que parece” — essencial para o sucesso de um bom thriller — não encontra terreno fértil aqui.
Em resumo, o filme falha em seu objetivo central: engajar e surpreender. O que poderia ser uma experiência memorável de suspense psicológico torna-se apenas um entretenimento esquecível, incapaz de explorar o potencial sombrio e provocativo da história que tenta contar.
★★★★★★★★★★