Indicado a três prêmios do Oscar, “A Árvore da Vida”, de Terrence Malick, transcende o conceito de um simples drama e mergulha profundamente em questões filosóficas e existenciais. A obra combina imagens grandiosas e significativas, que abrangem desde o nascimento do universo no Big Bang até o desenvolvimento da vida humana. Entrelaçando essas visões do cosmos com a rotina de uma família texana nos anos 1950, Malick cria um filme que é simultaneamente íntimo e universal. Disponível no Prime Video, a produção desafia o espectador a refletir sobre suas próprias convicções, crenças e perspectivas sobre a existência.
Embora o elenco reúna nomes de peso, como Brad Pitt, Jessica Chastain e Sean Penn, a verdadeira estrela de “A Árvore da Vida” é a deslumbrante cinematografia de Emmanuel Lubezki. Reconhecido como um dos maiores diretores de fotografia do cinema, o mexicano imprime um significado em cada enquadramento, transformando as imagens em narrativas que falam por si mesmas, antes mesmo das palavras. Seu trabalho eleva a experiência visual a um nível quase espiritual, conferindo à obra uma qualidade que transcende o convencional.
A colaboração entre Lubezki e Malick em “A Árvore da Vida” foi a primeira de três parcerias, seguida por “Amor Pleno” (2012) e “Cavaleiro de Copas” (2015). Esse período foi notável pela produtividade de Malick, um diretor historicamente conhecido pelos longos intervalos entre seus filmes. Antes disso, o hiato de 20 anos entre “Cinzas no Paraíso” e “Além da Linha Vermelha” evidenciava sua abordagem deliberada e introspectiva. No entanto, mesmo com essa nova fase mais prolífica, a marca autoral de Malick permaneceu intacta, carregada de reflexões profundas sobre espiritualidade e a natureza da existência.
Malick, que dedicou boa parte de sua vida ao ensino de filosofia e ao jornalismo, enxerga o cinema como um meio de explorar suas inquietações existenciais. Em “A Árvore da Vida”, ele apresenta uma visão íntima das complexas dinâmicas familiares de uma casa tradicional no Texas, através da perspectiva da família O’Brien. O pai, interpretado por Brad Pitt, é um homem rigoroso, que valoriza a disciplina e exige comprometimento de seus filhos. Por outro lado, a mãe, vivida de forma sublime por Jessica Chastain, exala ternura e compaixão, aparecendo como uma figura angelical, quase intocável em sua bondade.
Embora a história inclua os três filhos do casal, o foco recai sobre Jack, interpretado por Hunter McCracken na infância e Sean Penn na vida adulta. O filme explora sua jornada emocional e psicológica, marcada pelo luto pela perda de seu irmão, que morreu ao servir na guerra. A narrativa se desenrola em torno de questões de culpa, destino e a tentativa de encontrar sentido em um passado repleto de memórias entrelaçadas. Jack se vê dividido entre a pressão da vida urbana e a conexão com a natureza, refletindo sobre por que ele sobreviveu enquanto seu irmão não.
A relação simbólica entre os personagens e a natureza é outro aspecto crucial do filme. A mãe, evocando uma figura mariana, é retratada em momentos de dor e renovação, simbolizados pela água, que purifica e restaura. Através dela, Malick explora a interseção entre a criação, a fertilidade e o ciclo da vida, usando a natureza como metáfora para a força que conecta todos os seres.
“A Árvore da Vida” não é apenas um filme; é uma experiência sensorial e filosófica. Poético em sua essência, desafia os padrões narrativos tradicionais e exige do público uma disposição para contemplar suas camadas e significados profundos. No entanto, é uma jornada que nem todos estarão prontos para embarcar, sendo tão exigente quanto recompensadora para aqueles que aceitarem o convite.
★★★★★★★★★★