Comédia romântica que marcou uma geração e impactou a moda, inspirada em clássico imortal de Jane Austen, na Netflix Divulgação / Paramount Pictures

Comédia romântica que marcou uma geração e impactou a moda, inspirada em clássico imortal de Jane Austen, na Netflix

Jane Austen, falecida em 1817, jamais poderia imaginar que, quase dois séculos após sua morte, suas histórias ganhariam novas interpretações tão distantes de seu contexto original. Hollywood, com seu gosto por adaptações modernas, moldou “Emma” (1815) para atingir o público adolescente contemporâneo com “As Patricinhas de Beverly Hills”. Ainda que inspirado pela trama de Austen, o filme de Amy Heckerling toma liberdades significativas, oferecendo uma comédia leve, mas cheia de contradições.

Enquanto “Emma” apresenta uma aristocrata jovem, cujo senso de superioridade é desafiado por suas próprias falhas, “As Patricinhas de Beverly Hills” coloca Cher Horowitz, vivida por Alicia Silverstone, no papel central. Cher, rica, bonita e acostumada a dominar o ambiente escolar, é filha de Melvin Horowitz (Dan Hedaya), um advogado influente que a enxerga como uma eterna garotinha. A convivência com seu meio-irmão Josh (Paul Rudd) adiciona nuances à sua trajetória, mas a essência da personagem reflete os dilemas e exageros da juventude privilegiada dos anos 1990. 

O filme equilibra uma narrativa que flerta com a rebeldia típica das produções dos anos 1980 e 1990, sem perder o charme leve que o torna cativante. Dionne Davenport (Stacey Dash), melhor amiga de Cher, é um contraponto interessante, uma versão mais direta e pragmática da protagonista. Juntas, elas transparecem a energia anárquica de suas épocas, navegando por um colégio repleto de estereótipos — nerds, descolados, maconheiros e os inevitáveis futuros rei e rainha do baile. A trama central, focada na tentativa de unir dois professores rigorosos e solitários, Wendell Hall e Toby Geist (Wallace Shawn e Twink Caplan), é conduzida com leveza, refletindo o espírito de intervenção de Cher, sempre ávida por controlar o mundo ao seu redor.

Contudo, quando Tai Frasier (Brittany Murphy), uma novata desajeitada, entra em cena, o filme toma um rumo previsível. Cher assume o papel de mentora, transformando Tai em alguém que se encaixe nos padrões elitistas de Beverly Hills. Apesar da previsibilidade, a química entre Silverstone e Murphy confere um charme inegável, trazendo momentos genuínos em meio aos clichês. Heckerling, embora incapaz de emular a sofisticação literária de Austen, acerta ao capturar o espírito jovem e as contradições de sua protagonista. 

Entretanto, o filme não escapa das armadilhas comuns a produções do gênero. Do meio para o final, a energia se dissipa, e os momentos mais memoráveis ficam restritos às interações entre os personagens principais. Ainda assim, “As Patricinhas de Beverly Hills” se destaca como uma peça curiosa de sua época, questionando, ainda que superficialmente, os valores da juventude privilegiada e oferecendo uma perspectiva despretensiosa sobre as dinâmicas sociais. Hoje, talvez, faltem produções que combinem tanta irreverência com um toque de sensibilidade, fazendo desse filme um retrato divertido de um tempo que parece cada vez mais distante.

Filme: As Patricinhas de Beverly Hills
Diretor: Amy Heckerling
Ano: 1995
Gênero: Comédia/Romance
Avaliaçao: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★