Distante das fórmulas tradicionais das comédias românticas, “Um Clímax Entre Nós” traz uma abordagem singular e provocativa ao gênero. Este longa-metragem holandês marca a estreia de Joosje Duk na direção, revelando um olhar perspicaz sobre a dinâmica íntima de casais. A trama acompanha Luna (Gaite Jansen) e Mink (Martijn Lakemeier), um jovem casal que, após um ano de namoro, parece viver um relacionamento ideal. Entretanto, a aparente perfeição esconde um descompasso silencioso: Luna jamais experimentou prazer sexual verdadeiro ao lado de Mink, mantendo esse segredo desde o início.
Ao propor um ménage a trois como tentativa de reacender a chama da paixão, Luna desperta em Mink uma mistura de surpresa e apreensão. Ainda que aceite a ideia, sua hesitação revela um temor profundo: a possibilidade de que o encontro com outra pessoa abale o vínculo do casal. O que Mink não imagina, porém, é que o maior impacto desse experimento será para Luna. Após uma busca cuidadosa, eles conhecem Eva (Joy Delima), com quem compartilham uma noite aparentemente descontraída. Porém, quando Mink adormece no sofá, Luna e Eva se envolvem de maneira intensa e libertadora — marcando, pela primeira vez em um ano, o momento em que Luna experimenta prazer genuíno.
Movida pelo que encontrou em Eva, Luna inicia encontros secretos com ela, ocultando a verdade de Mink. Inevitavelmente, essa situação desencadeia consequências emocionais profundas, desafiando ambos a confrontarem as fragilidades e lacunas de sua relação. Luna se vê diante do dilema de assumir a honestidade como pilar indispensável, enquanto Mink precisa reavaliar sua visão do sexo e do prazer, abandonando uma perspectiva centrada apenas em suas próprias expectativas.
Duk constrói uma narrativa que mergulha nas complexidades emocionais dos relacionamentos, questionando os limites entre amor, desejo e honestidade. O roteiro reflete sobre a vulnerabilidade inerente às relações íntimas: estar com alguém é, muitas vezes, expor nossos medos, falhas e desejos mais profundos. Para Mink, a descoberta da traição de Luna não apenas desperta ciúmes, mas também desvela uma relação construída sobre ilusões. O problema não reside na introdução de Eva na intimidade do casal, mas na incapacidade mútua de reconhecer e atender às necessidades um do outro desde o início.
A obra também desafia os espectadores a refletirem sobre a relevância da satisfação sexual em um relacionamento amoroso. Afinal, o sexo é apenas um componente de algo maior, ou sua qualidade pode definir o sucesso de uma relação? Para Luna e Mink, a resposta passa pela compreensão de que o desejo e o amor demandam mais do que compatibilidade emocional; exigem comunicação aberta e empatia genuína.
A interpretação de Gaite Jansen e Martijn Lakemeier impressiona pela autenticidade e profundidade emocional, conferindo humanidade aos conflitos de seus personagens. A química entre os dois é palpável, mesmo quando os momentos de tensão tomam o centro da narrativa. Joy Delima, por sua vez, incorpora Eva com uma leveza magnética, tornando-a um catalisador convincente para as transformações vividas por Luna.
A estética visual é outro destaque. A fotografia de Ezra Reverda captura com maestria a beleza melancólica e romântica de Amsterdã, compondo cenas banhadas por tons dourados e texturas que evocam uma atmosfera veranil. Esse cuidado estético não apenas enriquece a narrativa, mas também amplifica a experiência emocional do espectador, que se sente imerso no universo do casal.
“Um Clímax Entre Nós” transcende os clichês do gênero ao abordar com coragem e sensibilidade as nuances de um relacionamento. A obra nos convida a questionar nossas próprias expectativas sobre amor, desejo e autenticidade, oferecendo um retrato honesto e, por vezes, desconfortável das dificuldades que envolvem estar verdadeiramente conectado a outra pessoa. Em sua estreia como diretora de longa-metragem, Joosje Duk demonstra maturidade e ousadia, consolidando sua voz como uma promessa no cinema contemporâneo.
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