Lee Isaac Chung, reconhecido por sua abordagem sensível e introspectiva em obras como o aclamado “Minari”, assume um desafio inédito ao dirigir “Twisters”, a sequência modernizada do clássico de 1996, “Twister”. Essa mudança de perspectiva artística marca sua estreia no universo de ação e aventura em larga escala. No entanto, mesmo em meio a cenas de destruição épica e efeitos especiais de tirar o fôlego, a assinatura do diretor se faz presente, mesclando espetáculo visual com nuances emocionais.
Apesar de um cenário propício para explorar a urgência das mudanças climáticas, Chung opta por um enfoque mais sutil. As implicações ambientais estão lá, mas diluídas no enredo, aparecendo como sugestões em diálogos ou elementos visuais. O filme escolhe priorizar o impacto visual e sensorial, relegando as discussões climáticas a um plano secundário. Embora essa decisão possa frustrar espectadores em busca de uma crítica mais incisiva, ela permite que o longa mantenha o ritmo acelerado característico de um blockbuster.
O uso de filme Kodak 35mm em “Twisters” é uma escolha técnica que transcende o valor estético. Essa decisão resgata a textura e a paleta de cores autênticas dos anos 90, oferecendo um contraste marcante à nitidez fria da era digital. Essa abordagem não é apenas uma homenagem ao original, mas também uma tentativa de capturar a intensidade visceral da natureza, um dos pilares do primeiro “Twister”. O resultado é um visual que combina nostalgia com inovação, equilibrando tradição e modernidade.
O projeto para uma sequência não é novidade. Bill Paxton, protagonista do filme original, dedicou anos tentando viabilizar essa continuação. Sua morte em 2017 marcou o fim de sua participação no sonho de expandir a história, mas a ideia permaneceu viva. Após sucessivos adiamentos e desafios (incluindo dificuldades financeiras e os impactos da pandemia de 2020, além da greve dos roteiristas em 2023), “Twisters” finalmente saiu do papel. Apesar dos obstáculos, o filme foi concluído em fevereiro de 2024, apenas meses antes de sua estreia, destacando o compromisso da equipe de produção em entregar uma experiência visualmente impactante.
O filme introduz uma nova leva de protagonistas, liderados por Daisy Edgar-Jones e Glen Powell. Edgar-Jones interpreta Kate Cooper, uma cientista que abandona a perigosa caça a tornados após uma tragédia pessoal. Trabalhando em Nova York com monitoramento climático, ela é convencida a retornar ao campo por Javi (Anthony Ramos), que a incentiva a testar uma tecnologia inovadora de rastreamento em Oklahoma. Enquanto isso, Powell dá vida a Tyler Owens, um caçador de tempestades que documenta suas aventuras nas redes sociais, atraindo uma audiência cativa com seu estilo audacioso e irreverente.
Esse embate entre Kate e Tyler reflete um conflito de gerações e filosofias. Enquanto Kate representa a ciência meticulosa e os desafios éticos, Tyler personifica a busca pelo espetáculo e a conexão emocional com o público. Essa dinâmica adiciona profundidade ao enredo, destacando as motivações e os limites éticos que guiam os personagens em um cenário de catástrofes naturais.
À medida que os tornados se tornam mais devastadores, o filme intensifica sua exploração de dilemas éticos e emocionais. Kate enfrenta uma jornada de autossuperação ao testar um composto químico experimental que promete dispersar tornados. No entanto, a falta de comprovações científicas e os riscos associados colocam essa inovação no centro de um debate moral. Essa abordagem humaniza o espetáculo, ressaltando que, mesmo em meio a cenários grandiosos, são os conflitos internos e as decisões difíceis que movem a narrativa.
Com estreia marcada para julho de 2024, “Twisters” é um testemunho do talento de Lee Isaac Chung em equilibrar drama humano com ação de grande escala. O filme entrega cenas eletrizantes e momentos de reflexão, criando uma experiência que transcende o mero entretenimento. Ao fundir nostalgia, técnica cinematográfica impecável e personagens complexos, “Twisters” reafirma o potencial de Chung em redefinir o que se espera de um blockbuster moderno.
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