Em novembro de 2008, a Índia enfrentou um dos episódios mais traumáticos de sua história recente. Entre os dias 26 e 29 daquele mês, uma série de ataques coordenados foi executada pelo grupo terrorista paquistanês Lashkar-e-Taiba, resultando em um rastro de destruição e luto. Os alvos foram cuidadosamente escolhidos: o icônico hotel Taj Mahal Palace, o Oberoi Trident, a estação de trem Chatrapati Shivaji Maharaj Terminus, o centro judaico Nariman House e o popular café Leopold. Todos esses locais, conhecidos por atrair turistas e estrangeiros, foram transformados em cenários de horror. O saldo final foi devastador: mais de 160 mortos e centenas de feridos.
Os ataques, realizados com granadas e rifles automáticos AK-47, não foram apenas atos de violência desmedida, mas uma tentativa estratégica de desviar a atenção das autoridades indianas das tensões na Caxemira, território em disputa com o Paquistão. Além disso, os terroristas buscavam chamar a atenção global e enfraquecer politicamente, economicamente e socialmente a Índia. Após dias de confrontos intensos, todos os dez atacantes foram neutralizados pelas forças de segurança indianas, mas o impacto psicológico e emocional daqueles dias permanece até hoje.
Esses acontecimentos são o pano de fundo do filme “Atentado ao Hotel Taj Mahal”, dirigido pelo grego-australiano Anthony Maras. O longa retrata a brutalidade e o pânico dos ataques sob diferentes perspectivas, trazendo personagens fictícios que ajudam a dar forma e emoção aos relatos. Entre eles estão Arjun, um garçom interpretado por Dev Patel; o casal Zahra (Nazanin Boniadi) e David (Armie Hammer), que tenta proteger seu bebê com a ajuda da babá Sally (Tilda Cobham-Hervey); além de aventureiros como Eddie (Angus McLaren) e Bree (Natasha Liu Bordizzo). Cada um desses personagens reflete, de maneira intensa, o desespero e a coragem diante do caos.
O roteiro é inspirado em histórias reais de bravura dos funcionários do Taj Mahal Palace, que arriscaram suas vidas para proteger os hóspedes. Muitos improvisaram escudos com bandejas, guiaram pessoas pelos corredores escuros e usaram lençóis para ajudar na fuga pelas janelas. Outros conduziram os hóspedes pela parte externa do hotel, tentando mantê-los escondidos dos terroristas, enquanto o perigo os cercava de todos os lados. A crueldade dos ataques é retratada sem suavizações, mostrando a execução de dezenas de pessoas inocentes pelas mãos dos terroristas.
A direção de Maras destaca-se pela forma como captura a intensidade e a angústia daquele momento. A atmosfera sufocante é amplificada pelo uso de cores frias e dessaturadas na fotografia, que reforçam a sensação de perigo constante. A câmera, frequentemente em movimento, transmite um senso de urgência, enquanto os closes intensificam a claustrofobia e o terror. A edição rápida e precisa mantém o espectador em alerta, transformando a narrativa em uma experiência visceral. As atuações, cuidadosamente executadas, contribuem para a imersão, tornando cada personagem crível e emocionalmente cativante.
Assistir ao filme é uma experiência desafiadora. Disponível na Netflix, ele não poupa o público da brutalidade dos ataques, mas o faz com um propósito: provocar reflexão e empatia. Cada disparo, cada explosão, parece reverberar diretamente na alma do espectador, gerando um desconforto físico e mental que é difícil de ignorar. Contudo, essa abordagem realista também serve para humanizar os personagens, apresentando suas ações e decisões em um espectro amplo e longe de julgamentos simplistas.
O longa evita o maniqueísmo, optando por explorar a complexidade humana em situações extremas. Cada personagem é apresentado com suas falhas e virtudes, revelando camadas de humanidade mesmo nos momentos mais sombrios. Ao final, “Atentado ao Hotel Taj Mahal” não é apenas um relato de um evento trágico, mas um testemunho da resiliência humana frente à barbárie, um lembrete doloroso da capacidade do terror, mas também da coragem, de moldar histórias e vidas.
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