Perseguições, crimes e dramas familiares parecem a combinação perfeita para certos diretores. Feito por alguém que por muito tempo ganhou a vida colocando-se como anteparo dos atores nas cenas mais arriscadas, “GTMax” tem tudo para agradar também a públicos não exatamente chegados a velocidade, adrenalina, tiros, mas a uma história que usa da criatividade e do dinamismo para reciclar lugares-comuns meio enjoativos. Dono de uma carreira prolífica como dublê, Olivier Schneider conta a história de um ex-prodígio do motocross que interrompe a carreira depois de um acidente. Ela até tenta buscar outros interesses, porém um ardil do destino acaba por empurrá-la para cima de sua velha companheira de duas rodas, e aí o roteiro de Rémi Leautier, Rachid Santaki e Jean-André Yerlès elabora os diversos conflitos que florescem no coração puro e belicoso dessa anti-heroína feito tantas outras, disposta a transformar vulnerabilidade em força.
Soélie é a típica mocinha perturbada, cujos traumas inspiram a empatia e a comiseração do espectador. Ela esquece da frustração de ter sido obrigada a parar de competir treinando o irmão caçula, Michael, que promete repetir o bom desempenho da precocemente aposentada Soélie, mas ela tem de se despedir dessa aspiração barata quando Michael sai derrotado numa prova e passa a ser coagido a tomar parte num roubo, e as coisas pioram ainda mais quando a família não consegue honrar uma dívida de 150 mil euros e o banco ameaça tomar-lhes a casa onde moram.
O pulo do gato aqui é o jeito como Schneider opta por esconder o envolvimento cada vez mais comprometedor de Michael em atividades criminosas, gancho providencial que se presta a juntar duas pontas importantes da narrativa. Ava Baya e Riadh Belaïche disputam os olhares mais e mais concentrados da audiência, em especial depois que o diretor leva seu filme para as ruas de Paris em insanas corridas cujo inegável encanto é absorvido por drones manobrados com rara destreza. Ou seja, tudo bastante formulaico, mas nem por isso menos estimulante.
O mote que justifica o longa, o choque moral entre Soélie e Michael, esgota-se por causa da urgência da ação sem trégua. O movimento constitui-se, de fato, no grande atrativo de “GTMax”, com a grata surpresa trazida por Elyas, o vilão de Jalil Espert. Este é um filme quase inteiramente visual, que sabe muito bem usar da estética para chegar aonde deseja.
★★★★★★★★★★