Comparado a John Wick, suspense de ação da Netflix fecha 2024 entre os filmes mais assistidos do ano Divulgação / Netflix

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Jeremy Saulnier reafirma sua marca registrada no cinema com “Rebel Ridge”, uma produção que não economiza no impacto visceral. Conhecido por suas narrativas intensas e descomplicadas, o diretor transforma uma ideia aparentemente direta em uma trama densa e inesperada. No centro da história está Terry Richmond, vivido de forma excepcional por Aaron Pierre, um homem negro que se vê em uma espiral kafkiana após ser vítima de uma abordagem policial injusta. Determinado a recuperar o dinheiro que lhe foi confiscado e limpar seu nome, Terry é apresentado como um ex-fuzileiro naval com uma serenidade calculada, mas cuja raiva reprimida emerge com força conforme os eventos se desenrolam.

Distante dos moldes convencionais, “Rebel Ridge” quebra expectativas e surpreende em sua abordagem. Embora trate de temas como racismo estrutural e violência policial, o filme evita discursos didáticos, optando por uma narrativa que confia nos personagens para explorar esses tópicos. Comparações com o documentário “A 13ª Emenda”, de Ava DuVernay, são compreensíveis, mas Saulnier toma outro caminho: ao invés de uma análise documental e minuciosa, ele escolhe uma abordagem visceral, permitindo que os eventos falem por si. Essa escolha é amplificada por reviravoltas calculadas que mantêm o público à beira do assento, especialmente quando Terry decide desafiar o xerife local, interpretado por Don Johnson, em um confronto cheio de tensão e imprevisibilidade.

O desempenho de Aaron Pierre é um dos pilares da narrativa, oferecendo uma interpretação que equilibra suavidade e intensidade de maneira impressionante. Sua transformação de vítima para combatente é natural e cativante, enquanto sua dinâmica com Summer McBride, uma jovem estagiária idealista vivida por AnnaSophia Robb, introduz uma nota de humanidade e otimismo. Embora o filme evite explorar um romance tradicional entre os dois, a relação construída é emocionalmente potente, funcionando como um ponto de equilíbrio em meio ao caos crescente. As interações entre Terry e Summer contribuem para manter o ritmo do filme, especialmente quando a tensão com as autoridades locais atinge o clímax.

Com “Rebel Ridge”, Saulnier conduz o público por uma jornada emocional que exige reflexões sobre justiça, resistência e os limites do ser humano diante da opressão. A brutalidade exibida no filme não é gratuita; ao contrário, ela sublinha questões fundamentais, ao mesmo tempo em que se mantém centrada na narrativa principal. O desfecho, que evita soluções fáceis, sublinha o fato de que até mesmo as pessoas mais equilibradas podem reagir de maneira extrema quando levadas ao limite. Essa escolha narrativa destaca a recusa de Saulnier em se curvar às convenções ou entregar resoluções previsíveis, priorizando a integridade do enredo.

No panorama geral, “Rebel Ridge” solidifica Jeremy Saulnier como um cineasta em constante evolução, capaz de entregar uma experiência que mescla ação eletrizante, drama profundo e crítica social incisiva. A narrativa mantém o espectador engajado do início ao fim, amarrando cada cena em uma trama que desafia convenções e proporciona reflexões duradouras. É uma obra que comprova que grandes histórias não precisam seguir padrões previsíveis e que, muitas vezes, a verdadeira força está em romper com o esperado.

Filme: Rebel Ridge
Diretor: Jeremy Saulnier
Ano: 2024
Gênero: Ação
Avaliaçao: 9/10 1 1
★★★★★★★★★