Favorito ao Oscar 2025, novo filme da Netflix é um diamante raro que vai tocar sua alma Divulgação / Netflix

Favorito ao Oscar 2025, novo filme da Netflix é um diamante raro que vai tocar sua alma

Os Washington parecem mesmo empenhados em diversificar seu raio de atuação. Oito anos depois de o patriarca Denzel ter estrelado e dirigido “Fences – Um Limite Entre Nós”, agora o caçula Malcolm Washington também lança-se numa estreia promissora com “Piano de Família”, que apresenta ainda mais alguns pontos de interseção com o longa de 2016. Da mesma forma que “Fences”, “Piano de Família” é também adaptação de um sucesso rumoroso de August Wilson (1945-2005), consagrado nos palcos da Broadway em 1987. Um dos nomes mais importantes do teatro americano, Wilson conseguiu com “Piano de Família” unir um texto de altíssimo nível intelectual à sempiterna urgência de análise sobre a questão racial nos Estados Unidos, sem abrir mão da poesia e da contundência. O diretor e o corroteirista Virgil Williams recriam os cenários da Pittsburgh dos anos 1930, atentando para a construção meticulosa dos personagens, sem dúvida um dos muitos fortes de Wilson. O resultado é um filme cheio de surpresas, que escapa do óbvio cena após cena.

A história abre em 4 de julho de 1911, com os tradicionais fogos em comemoração pela independência da América, quando em 1776 as tropas emancipatórias lideradas por George Washington (1732-1799) levaram a melhor nos enfrentamentos contra a Inglaterra, sua metrópole desde 1607. A família Charles recebe de herança um piano vertical gravado com os rostos de seus ancestrais. O instrumento fora tirado da casa de James Sutter como uma forma de medida reparadora sem a intervenção da justiça, e passados 25 anos, na esteira da Grande Depressão (1929-1939), Boy Willie sai do norte do Mississippi para a Pensilvânia sonhando recuperar o piano para vendê-lo e, assim, poder comprar uma pequena propriedade. 

Na pele de Boy Willie, John David Washington, o irmão mais velho de Malcolm, galvaniza os desejos inconfessáveis de gerações de pretos, descendentes de escravizados, dando vazão a gestos largos e falas em tons grandiloquentes, até que sua presença magnética bate de frente com Berniece, a irmã vivida por Danielle Deadwyler. Cada um defende uma atitude oposta a ser tomada a respeito do piano e simboliza um arquétipo específico. Se Boy Willie julga-se no direito de tomar posse daquela herança, Berniece está disposta a lutar até as últimas consequências pela preservação do piano, nascendo daí um embate que Malcolm colore com as tintas do realismo fantástico, ao passo que também tem o condão de encaminhar seu filme para o terreno do pragmatismo, evocando, mais uma vez, a necessidade de se debater a verdade sobre a posição dos afro-americanos hoje. Por essas e outras é que “Piano de Família” e August Wilson continuam sendo clássicos.

Filme: Piano de Família 
Diretor: Malcolm Washington
Ano: 2024
Gênero: Drama
Avaliaçao: 9/10 1 1
★★★★★★★★★