Durante séculos, antes da fundação do Estado de Israel, os judeus viveram como nômades, buscando incessantemente a terra prometida por Deus. Através dos tempos, foram vítimas de escravidão, opressão e massacres, forçados a se espalhar por diversas regiões do mundo em busca de um lugar onde pudessem viver em segurança. Entre as comunidades mais isoladas, estavam os Beta-Israel, judeus etíopes que, no final do século 20, se viam em uma situação desesperadora, abrigados em campos de refugiados no Sudão, sendo sistematicamente exterminados por milícias paramilitares. A história da operação que salvou cerca de 17 mil desses judeus, realizada com a ajuda do Mossad, é a base para o filme “Missão no Mar Vermelho”.
O enredo do filme se passa entre 1979 e 1981, e retrata uma das missões mais ousadas do Mossad: a infiltração de um grupo de agentes israelenses no Sudão, disfarçados de empregados em um resort turístico às margens do Mar Vermelho. Esse complexo funcionava como fachada para a operação de resgate dos judeus africanos, permitindo que, enquanto o hotel recebia turistas de diversas partes do mundo, o plano secreto acontecesse sob o radar de todos. O resort operava normalmente, com panfletos sobre as belezas naturais da região, mas por trás de suas paredes, os soldados altamente treinados aguardavam a hora de agir. A missão, além de ser clandestina, era uma iniciativa contra o governo sudanês, o que a tornava ainda mais arriscada.
Dirigido e roteirizado por Gideon Raff, conhecido pelo seu trabalho na série “Homeland”, “Missão no Mar Vermelho” é uma narrativa tensa e repleta de ação, na qual o personagem principal, Ari Levinson (Chris Evans), é inspirado no agente do Mossad Daniel Limor. Levinson é o responsável por arquitetar o plano de resgate dos judeus, contando com o apoio do governo israelense e reunindo uma equipe de ex-colegas de confiança. Entre eles estão Sammy (Alessandro Nivola), Rachel (Haley Bennett), Jake (Michiel Huisman) e Max (Alex Hassell), todos envolvidos em uma missão ilegal e cheia de riscos, mas que acaba sendo bem-sucedida ao salvar milhares de vidas.
O filme é marcado por cenas intensas de conflitos e fugas, que mantêm o público em constante tensão. A forma como a câmera se movimenta, com o uso de tomadas rápidas e cenas noturnas, cria uma atmosfera de incerteza, refletindo a angústia dos personagens e a constante ameaça iminente. O espectador, assim como os protagonistas, muitas vezes se vê perdido e sem saber o que está acontecendo, o que aumenta ainda mais a sensação de perigo.
Embora o plano de resgate pareça audacioso e quase impossível, a história do mundo está repleta de exemplos de ações ousadas que, de forma surpreendente, deram certo, como é o caso de filmes como “Argo” e “A Lista de Schindler”. A fé e a ousadia são essenciais para transformar um desejo de fazer o bem em uma ação concreta, e isso é um dos aspectos mais interessantes do filme. Ele ilumina um evento histórico pouco conhecido, que poderia ter sido mais explorado no que diz respeito à tensão e ao drama, mas que ainda assim atraiu críticas pela falta de profundidade emocional e pelo que muitos consideraram ser uma abordagem sem grande personalidade do diretor.
Apesar dessas limitações, “Missão no Mar Vermelho” se beneficia de um elenco estelar, cujas atuações são indiscutivelmente o ponto alto da produção. Chris Evans, Alessandro Nivola, Haley Bennett, Michiel Huisman e Alex Hassell desempenham bem seus papéis, mas é Michael Kenneth Williams quem realmente se destaca, oferecendo uma performance impressionante que fica marcada ao longo da trama. Além deles, Ben Kingsley e Greg Kinnear, ambos com passagens notáveis pelo universo cinematográfico da Marvel, adicionam ainda mais qualidade ao conjunto de atuações.
No fim, “Missão no Mar Vermelho” é um filme que, embora não seja uma obra-prima, se apresenta como uma excelente oportunidade para quem deseja aprender um pouco sobre um capítulo pouco explorado da história, enquanto se delicia com boas atuações e um enredo que, apesar de falhas em sua execução dramática, ainda consegue envolver o público. A história de coragem e resiliência, baseada em um feito histórico real, é um lembrete do quanto o sacrifício e a bravura podem mudar o destino de tantas vidas.
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