Peter Berg, amplamente reconhecido por dirigir obras impactantes como “Colateral” e “O Grande Herói”, é o responsável por levar às telas “O Dia do Atentado”. O longa-metragem, baseado em fatos reais, narra o trágico ataque à Maratona de Boston em 2013 e a intensa caçada policial que se seguiu, buscando capturar os responsáveis: os irmãos Tamerlan e Dzhokhar Tsarnaev. Com duas indicações ao Emmy e diversas premiações acumuladas, Berg entrega aqui uma visão visceral e comovente de uma tragédia que abalou não apenas os Estados Unidos, mas o mundo inteiro.
Atentados terroristas deixam marcas profundas porque atingem indiscriminadamente vítimas inocentes, geralmente pessoas que desconhecem completamente as razões ideológicas por trás dessas ações. Esses crimes, motivados apenas pelo desejo de gerar medo coletivo e enfraquecer instituições, espalham pânico e desespero, expondo a fragilidade da segurança em sociedades modernas. Esse é o pano de fundo da narrativa criada por Berg, que utiliza o poder do cinema para explorar as consequências humanas e sociais dessa tragédia.
O roteiro de “O Dia do Atentado” é uma fusão engenhosa de dois textos independentes, adaptados por Matt Cook, Joshua Zetumer e pelo próprio Berg, criando uma narrativa única. O filme não se limita a mostrar o ataque, mas também foca em diversos personagens que vivenciaram a tragédia, revelando histórias interconectadas e perspectivas distintas. Entre eles estão os irmãos Tsarnaev, interpretados por Alex Wolff e Themo Melikidze, cujas ações desencadeiam a trama; o policial Tommy Saunders (Mark Wahlberg), que é peça-chave na investigação; e vítimas como Jessica Kensky (Rachel Brosnahan) e Patrick Downes (Chris O’Shea), que representam a dor e a resiliência das famílias atingidas.
No dia do ataque, Saunders é o responsável por monitorar a segurança na icônica Boylston Street, onde centenas de pessoas aguardavam o término da corrida. Em um cenário de celebração e alegria, duas explosões mudam drasticamente o clima, espalhando pânico e devastação. As bombas, detonadas com 190 metros de distância uma da outra, feriram mais de 280 pessoas e tiraram a vida de três, incluindo uma criança de oito anos. Essas cenas, recriadas com uma combinação de gravações reais e dramatizações, são impactantes e carregadas de autenticidade, trazendo à tona o caos vivido naquele dia.
A narrativa intercala imagens reais, como vídeos de celulares e câmeras de segurança, com cenas interpretadas pelo elenco, criando uma imersão única. O nível de realismo é tão elevado que o espectador sente o peso emocional dos acontecimentos, desde os esforços heróicos de civis e equipes de resgate até o medo palpável de novas ameaças. O trabalho meticuloso de Berg transforma cada frame em um retrato angustiante e visceral de coragem e humanidade.
Após as explosões, o FBI, liderado por Richard DesLauriers (Kevin Bacon), assume a investigação. A recriação minuciosa do cenário do crime, com recursos tecnológicos de ponta, leva à identificação dos suspeitos nas gravações. As cenas mostram Dzhokhar, então com 19 anos, interagindo com outro indivíduo, revelando que o ataque foi executado em dupla. As autoridades enfrentam uma corrida contra o tempo, pois descobrem que os irmãos planejam novos atentados em Nova York.
A perseguição aos Tsarnaev é eletrizante, culminando em um confronto feroz nos arredores de Boston. Durante a fuga, os irmãos matam um policial do MIT e sequestram o carro de um estudante, Du Meng (Jimmy O. Yang), que consegue escapar e alertar a polícia. A cena de troca de tiros é tão intensa quanto inacreditável: Tamerlan é baleado e, posteriormente, atropelado pelo próprio irmão em um ato desesperado de fuga. Esses momentos, cheios de tensão e ação, mostram a disposição dos criminosos de causar destruição a qualquer custo, mesmo diante da morte iminente.
O longa equilibra ação e drama com maestria, detalhando os eventos de forma quase documental. O impacto emocional é amplificado pelo desempenho do elenco, que entrega atuações autênticas e profundamente comoventes. O público, especialmente no Festival do American Film Institute (AFI), respondeu com entusiasmo, aplaudindo de pé uma produção que não apenas narra uma tragédia, mas também celebra a resiliência de uma comunidade.
Um elemento marcante do filme é a participação ativa da população de Boston na produção. Desde a construção dos cenários até a atuação como figurantes, os cidadãos contribuíram para trazer autenticidade à obra. A semelhança física dos atores Alex Wolff e Themo Melikidze com os verdadeiros irmãos Tsarnaev foi tão impressionante que gerou desconforto entre os figurantes durante as filmagens, reforçando o impacto emocional do filme.
“O Dia do Atentado” não é apenas um relato sobre terrorismo, mas uma homenagem à força coletiva diante da adversidade. Peter Berg entrega um filme que transcende o gênero de ação, tocando profundamente na alma humana e lembrando que, mesmo nas piores tragédias, a solidariedade pode emergir como um farol de esperança.
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