32 dias no Top 10 mundial, romance com Haley Lu Richardson visto por mais de 100 milhões de assinante na Netflix Divulgação / Netflix

32 dias no Top 10 mundial, romance com Haley Lu Richardson visto por mais de 100 milhões de assinante na Netflix

No “Soneto de Fidelidade”, escrito em 1939 durante uma viagem a Portugal e publicado sete anos depois em “Poemas, Sonetos e Baladas”, Vinicius de Moraes (1913-1980) reflete sobre a efemeridade do amor, comparando-o a uma chama que inevitavelmente se apaga. Nelson Rodrigues (1912-1980), com sua habitual dramaticidade, afirmava o oposto: se o amor morre, é porque nunca foi verdadeiro. Independentemente de qual perspectiva mais ressoe com o leitor, o fato é que “Amor à Primeira Vista”, adaptação de Vanessa Caswill para o romance “A Probabilidade Estatística do Amor à Primeira Vista” (2011), de Jennifer E. Smith, carece tanto da intensidade poética de Vinicius quanto do fervor trágico de Nelson. Baseado no pretensioso best-seller da autora americana formada em redação criativa pela Universidade de St. Andrews, o filme trafega por reflexões superficiais sobre o acaso e a natureza do amor, mas seu maior problema reside em aspectos menos abstratos e mais palpáveis, revelados ao longo de seus exatos 90 minutos de projeção.

A narrativa se inicia com uma voz feminina narrando que o dia 20 de dezembro é o pior para viajar a partir do Aeroporto Internacional John F. Kennedy, em Nova York. Nessa data, mais de 193 mil pessoas transitam pelo terminal, acompanhadas por bagagens que triplicam esse número e causam atrasos médios de 123 minutos no check-in e até 117 minutos na inspeção de segurança. Hadley Sullivan, a protagonista interpretada por Haley Lu Richardson, tenta embarcar em um voo para Londres, mas perde o horário por míseros quatro minutos — um atraso que, em tempos de suposta eficiência aérea, resulta em consequências irreparáveis. No entanto, esse contratempo inicial a leva a cruzar com Oliver (Ben Hardy), outro passageiro cujo destino parece entrelaçado ao dela. A partir daí, a trama promete explorar a conexão instantânea entre os dois jovens, mas o que se desenrola é uma sequência de diálogos previsíveis e situações que, embora visualmente agradáveis, carecem de substância emocional.

O roteiro de Katie Lovejoy se perde em detalhes exaustivos, como a quantidade de passageiros, malas e almofadas de pescoço a bordo do avião, mas não investe no desenvolvimento real dos personagens ou no aprofundamento da relação entre Hadley e Oliver. O resultado é uma história que tenta evocar o charme de comédias românticas clássicas, mas se contenta em ser uma peça descartável, fácil de consumir e esquecer. As coincidências que deveriam sustentar a narrativa acabam soando forçadas, e as interações entre os protagonistas carecem da química necessária para convencer o espectador. Haley Lu Richardson tenta trazer um pouco de autenticidade à sua personagem, mas é prejudicada por diálogos insípidos. Ben Hardy, por sua vez, entrega uma performance ainda menos convincente, embora sua participação mais breve o poupe de críticas mais severas.

Embora seja evidente que “Amor à Primeira Vista” foi pensado para um público específico — provavelmente o mesmo que devorou os livros de Jennifer E. Smith —, o filme falha em capturar a essência do amor como algo visceral e imprevisível. A produção é visualmente agradável e tem momentos pontuais de charme, mas carece da intensidade necessária para deixar uma impressão duradoura. O amor, como a vida, é feito de som e fúria, algo que este filme não consegue traduzir. A sequência de um baile de máscaras, que poderia simbolizar a efemeridade das emoções humanas, acaba funcionando como uma metáfora para a própria obra: bela na superfície, mas incapaz de se sustentar quando examinada mais de perto.

Filme: Amor à Primeira Vista
Diretor: Vanessa Caswill
Ano: 2022
Gênero: Drama/Romance
Avaliaçao: 7/10 1 1
★★★★★★★★★★