No “Soneto de Fidelidade”, escrito em 1939 durante uma viagem a Portugal e publicado sete anos depois em “Poemas, Sonetos e Baladas”, Vinicius de Moraes (1913-1980) reflete sobre a efemeridade do amor, comparando-o a uma chama que inevitavelmente se apaga. Nelson Rodrigues (1912-1980), com sua habitual dramaticidade, afirmava o oposto: se o amor morre, é porque nunca foi verdadeiro. Independentemente de qual perspectiva mais ressoe com o leitor, o fato é que “Amor à Primeira Vista”, adaptação de Vanessa Caswill para o romance “A Probabilidade Estatística do Amor à Primeira Vista” (2011), de Jennifer E. Smith, carece tanto da intensidade poética de Vinicius quanto do fervor trágico de Nelson. Baseado no pretensioso best-seller da autora americana formada em redação criativa pela Universidade de St. Andrews, o filme trafega por reflexões superficiais sobre o acaso e a natureza do amor, mas seu maior problema reside em aspectos menos abstratos e mais palpáveis, revelados ao longo de seus exatos 90 minutos de projeção.
A narrativa se inicia com uma voz feminina narrando que o dia 20 de dezembro é o pior para viajar a partir do Aeroporto Internacional John F. Kennedy, em Nova York. Nessa data, mais de 193 mil pessoas transitam pelo terminal, acompanhadas por bagagens que triplicam esse número e causam atrasos médios de 123 minutos no check-in e até 117 minutos na inspeção de segurança. Hadley Sullivan, a protagonista interpretada por Haley Lu Richardson, tenta embarcar em um voo para Londres, mas perde o horário por míseros quatro minutos — um atraso que, em tempos de suposta eficiência aérea, resulta em consequências irreparáveis. No entanto, esse contratempo inicial a leva a cruzar com Oliver (Ben Hardy), outro passageiro cujo destino parece entrelaçado ao dela. A partir daí, a trama promete explorar a conexão instantânea entre os dois jovens, mas o que se desenrola é uma sequência de diálogos previsíveis e situações que, embora visualmente agradáveis, carecem de substância emocional.
O roteiro de Katie Lovejoy se perde em detalhes exaustivos, como a quantidade de passageiros, malas e almofadas de pescoço a bordo do avião, mas não investe no desenvolvimento real dos personagens ou no aprofundamento da relação entre Hadley e Oliver. O resultado é uma história que tenta evocar o charme de comédias românticas clássicas, mas se contenta em ser uma peça descartável, fácil de consumir e esquecer. As coincidências que deveriam sustentar a narrativa acabam soando forçadas, e as interações entre os protagonistas carecem da química necessária para convencer o espectador. Haley Lu Richardson tenta trazer um pouco de autenticidade à sua personagem, mas é prejudicada por diálogos insípidos. Ben Hardy, por sua vez, entrega uma performance ainda menos convincente, embora sua participação mais breve o poupe de críticas mais severas.
Embora seja evidente que “Amor à Primeira Vista” foi pensado para um público específico — provavelmente o mesmo que devorou os livros de Jennifer E. Smith —, o filme falha em capturar a essência do amor como algo visceral e imprevisível. A produção é visualmente agradável e tem momentos pontuais de charme, mas carece da intensidade necessária para deixar uma impressão duradoura. O amor, como a vida, é feito de som e fúria, algo que este filme não consegue traduzir. A sequência de um baile de máscaras, que poderia simbolizar a efemeridade das emoções humanas, acaba funcionando como uma metáfora para a própria obra: bela na superfície, mas incapaz de se sustentar quando examinada mais de perto.
★★★★★★★★★★