Depois de vencer as metafísicas preocupações quanto à consistência dos detritos fisiológicos; as agonias da adaptação à escola, o primeiro ambiente em que os filhos passam a responder por suas próprias escolhas com alguma autonomia; a batalha inglória e quase trágica da adolescência; a incerteza quanto a ter feito um bom trabalho, observando de longe (mas não muito) o desempenho profissional dos eternos pimpolhos, torcendo e rezando para que se firmem na carreira de uma vez por todas, as mães gozam de algum respiro para, afinal, cuidar de si mesmas e fazer boa parte das coisas que foram protelando durante a vida. Será mesmo? A maternidade tem se tornado uma obsessão por sua promessa de aplacar a solidão de gente imatura, o que fica nas entrelinhas de “Troca de Bebês 2”.
Como fizera no longa anterior, a dinamarquesa Barbara Topsøe-Rothenborg continua a se estender sobre os dramas de mães — e agora também pais — que deparam-se com uma questão bastante particular e complexa, reacendendo a eterna discussão em torno do que determina, afinal, a relação mais categórica de alguém. Se antes Topsøe-Rothenborg falava sobre duas mulheres que descobrem que a clínica de fertilização artificial a que recorreram para tornar possível o sonho de gerar uma vida cometera um grave erro ao inseminá-las, nesta sequência os pais têm de lidar com suas adoráveis crianças e com todos os inconvenientes de tentar uma conciliação entre as rotinas e costumes tão diversos.
Talvez ainda demore algum tempo, mas há de chegar o dia em que anjos descerão à Terra, mandados por Deus, para averiguar como estamos nos saindo antes de termos nosso destino selado. Será o dia em que, definitivamente, vai se saber se entre os muitos chamados sobrará mesmo uns poucos escolhidos, derivando desse movimento uma verdadeira guerra em que, inconformados, os preteridos irão se juntar contra aqueles que contam com a simpatia divina e se vai assistir a um dos muitos e intermináveis capítulos do juízo final aqui mesmo neste plano.
Até na civilizadíssima Dinamarca a maternidade tem sido muito mais razão para desespero que de alegria, o que fica mais e mais claro na forma como se desenrola o texto de Topsøe-Rothenborg, coescrito com Pia Konstantin Berg e Line Mørkeby. A diretora suaviza os lances mais passíveis de controvérsias com a ajuda de Mille Dinesen, uma das comediantes mais queridas daquelas bandas de gelo e lonjuras. Sua Cecilie perpassa toda a história, sempre mais senssta que o recomendável, tentando até conseguir o tal final feliz. E ratificando que ser mãe (ou pai) não é para quem quer apenas.
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