Você está perdendo um dos melhores filmes da Netflix — e nem sabe disso Divulgação / Samuel Goldwyn Film

Você está perdendo um dos melhores filmes da Netflix — e nem sabe disso

Dirigido por Thomas Vinterberg e coescrito por ele ao lado de Tobias Lindholm, “Druk – Mais Uma Rodada” conquistou o Oscar de Melhor Filme Internacional em 2021, se tornando o quarto longa dinamarquês a levar a estatueta nessa categoria. O título do filme, “Druk”, possui uma peculiaridade linguística: é uma palavra exclusiva do dinamarquês, sem tradução direta em outros idiomas. Embora não haja uma equivalência exata, a expressão mais próxima seria “se embriagar”. No entanto, o título original em inglês, “Another Round” (“Mais Uma Rodada”), carrega um significado duplo. A expressão pode ser entendida tanto como uma “rodada de bebidas alcoólicas” quanto como uma metáfora para a oportunidade de recomeçar ou experimentar novamente, sugerindo que a vida também nos oferece novas chances, como um copo de álcool.

Durante uma conversa com o cineasta Guillermo del Toro, que pode ser assistida no YouTube, e também em uma entrevista no Festival de Cinema de Toronto, Vinterberg compartilhou que o consumo de álcool é uma prática profundamente enraizada na sociedade dinamarquesa, algo amplamente aceito e consumido em grandes quantidades, ao contrário de outras culturas, onde esse comportamento é mais restrito ou combatido. O diretor revelou que a premissa do filme é inspirada por uma teoria popular na Dinamarca, que sugere que todos deveriam nascer com uma dose moderada de álcool no sangue, pois isso, segundo a crença, tornaria as pessoas mais sociáveis, criativas, corajosas e autênticas. Porém, ele também aborda o outro lado dessa teoria, mostrando como o consumo excessivo pode, ao contrário, destruir a vida de alguém.

A trama de “Druk” acompanha quatro professores de ensino médio, homens na faixa dos 40 anos, que estão desiludidos com a vida, com suas carreiras estagnadas e suas rotinas monótonas. Com um sentimento generalizado de frustração e perda, eles decidem fazer um pacto: todos os dias, antes de irem trabalhar, devem consumir uma certa quantidade de álcool, acreditando que isso os ajudaria a melhorar o desempenho em diversos aspectos de suas vidas, incluindo o profissional. O que os inspira a seguir esse caminho é uma pesquisa que sugere que as pessoas ficam mais interessantes e confiantes quando estão sob o efeito do álcool. No começo, os efeitos parecem ser positivos e a ideia parece funcionar. No entanto, como era de se esperar, as consequências não tardam a aparecer e o método acaba se mostrando insustentável.

Vinterberg, no entanto, enfatizou que não tinha a intenção de criar um filme moralista. Seu objetivo era mostrar como é importante se aceitar com suas imperfeições, aprender a se perdoar e a encontrar novos significados para a vida. Curiosamente, essa história foi concebida em um momento de imensa dor pessoal para o diretor. Quatro dias antes do início das filmagens, sua filha de 19 anos faleceu em um trágico acidente de carro. Ela havia sido escolhida para atuar no filme e, antes de sua morte, escreveu uma carta ao pai, dizendo que adorara o roteiro. Esse gesto se tornou uma forte motivação para Vinterberg continuar o projeto, mesmo em meio ao sofrimento.

A atuação de Mads Mikkelsen, estrela do filme, é outro ponto alto. Considerado um dos grandes nomes do cinema dinamarquês, Mikkelsen, que também é reconhecido por sua participação em outros filmes de destaque como “A Caça”, “Valhalla Rising”, “Pusher” e na série “Hannibal”, entrega uma performance que prende a atenção do público em cada cena. Ele se destaca especialmente em uma sequência inesquecível, uma dança performática que exigiu grande empenho e dedicação por parte do ator. Essa cena, além de cativante, demonstra a habilidade de Mikkelsen em transmitir emoções complexas através de sua expressão corporal.

“Druk” aborda o alcoolismo de uma maneira rara, sem recorrer a julgamentos fáceis ou conclusões definitivas. Ao invés de simplesmente apontar os perigos do consumo excessivo, o filme convida o público a refletir sobre os altos e baixos da vida, sobre a importância de se permitir novas experiências e sobre a necessidade de aproveitar o presente, sem se perder nas pressões do cotidiano. O trabalho de Vinterberg é, portanto, uma provocação ao espectador, um convite para que se reencontre com a própria humanidade, com suas falhas e com as chances que a vida, muitas vezes, nos oferece para recomeçar.

Filme: Druk – Mais Uma Rodada
Diretor: Thomas Vinterberg
Ano: 2020
Gênero: Drama
Avaliaçao: 10/10 1 1
★★★★★★★★★★