Com uma trajetória marcada por mais de duas dezenas de roteiros consagrados, incluindo títulos de grande apelo como as animações “Carros” e “Enrolados”, além da comédia romântica “Amor a Toda Prova”, Dan Fogelman é um nome consolidado no cinema. No entanto, sua incursão como diretor ainda é limitada, com apenas duas produções no currículo. A primeira delas, “Não Olhe Para Trás” (2015), reúne um elenco de peso liderado por Al Pacino e Christopher Plummer, e traduz sua habilidade narrativa em uma trama comovente e espirituosa.
A inspiração para o filme veio de uma história real vivida pelo músico Steve Tilston, que descobriu, décadas depois, uma carta de John Lennon escrita para ele. Essa premissa serve como base para a jornada de Danny Collins (interpretado por Pacino), um cantor que alcançou fama nos anos 1970 como intérprete, mas nunca conseguiu fazer sucesso com suas próprias composições. Aos 70 anos, com uma carreira longa, mas marcada por escolhas superficiais, Danny recebe de seu agente e amigo Frank Grubman (Plummer) um presente que muda tudo: uma carta de John Lennon, perdida por mais de 40 anos, que o incentiva a seguir seu verdadeiro caminho artístico.
Esse reencontro com o passado provoca uma crise existencial em Danny. Determinado a transformar sua vida, ele decide abandonar os excessos que o acompanharam por décadas – drogas, relacionamentos efêmeros e um estilo de vida desprovido de profundidade. Em busca de um propósito genuíno, Danny resolve se reconectar com o filho que nunca conheceu, fruto de uma breve relação com uma fã. Tom Donnelly (vivido por Bobby Cannavale) cresceu sem qualquer vínculo com o pai, e agora, como um homem adulto com sua própria família, enfrenta dificuldades para aceitar a presença tardia de Danny. Casado com Samantha (Jennifer Garner) e pai de uma menina com TDAH, Tom leva uma vida simples em New Jersey, focado nos desafios cotidianos de manter a família e buscar uma educação especializada para sua filha.
Embora a recepção inicial de Tom seja marcada por resistência e mágoas acumuladas, Danny não desiste de aproximar-se. Para isso, ele se hospeda em um hotel local, gerenciado por Mary Sinclair (Annette Bening), com quem desenvolve uma relação romântica leve e natural. Paralelamente, a reaproximação com a música autoral o impulsiona a compor novamente, preparando-se para apresentar uma nova canção em seu próximo show, marcando um renascimento em sua carreira e em sua vida pessoal.
O filme de Fogelman mescla momentos de leveza, humor e emoção, conduzindo o espectador por uma narrativa que fala sobre reconciliação, transformação e as escolhas que definem quem somos. Al Pacino entrega uma atuação que equilibra carisma e excentricidade, trazendo uma dose de irreverência que só amplifica o charme do personagem. A trilha sonora, composta majoritariamente por canções de John Lennon, é um deleite à parte, enriquecendo a história com a força e a poesia das composições do ex-Beatle.
Em meio às tentativas de redenção de Danny, o público é convidado a torcer por sua evolução, rir de suas extravagâncias e emocionar-se com suas vulnerabilidades. “Não Olhe Para Trás” é mais do que uma narrativa sobre música e fama; é um convite para refletirmos sobre o que realmente importa e como, mesmo diante dos erros do passado, sempre há tempo para reescrever nossa história.
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