Há algum tempo, eu buscava uma nova animação que tivesse o nível de profundidade que as antigas animações da Disney ofereciam. Com roteiros bem trabalhados, planos e cenas bem desenvolvidos, uma boa trilha sonora e personagens inesquecíveis. Foi exatamente isso que encontrei em “Robô Selvagem”.
Baseado no livro norte-americano escrito por Peter Brown, “Robô Selvagem” é a nova aposta da DreamWorks para as premiações de 2025. Do mesmo diretor de “Os Croods” e do fenômeno “Lilo & Stitch”, a história acompanha o crescimento de Bico-Vivo, um ganso que não se encaixa nos padrões. Com suas asas pequenas e seu tamanho desproporcional aos outros de sua espécie, Bico-Vivo se separa de sua família e é criado por um robô e uma raposa.
A robô Roz faz parte da organização Universal Dynamics, que programa robôs para auxiliar os seres humanos. Mas, durante uma tempestade, ela se perde e acaba parando no meio de uma ilha desabilitada. Lá, ela precisa aprender a conviver com diversas espécies de animais e acaba destruindo acidentalmente um ninho de gansos. No entanto, um dos filhotes consegue sobreviver. Ela o batiza de Bico-Vivo e se responsabiliza pelos cuidados dele.
A robô o abriga, o alimenta e o protege de todos os perigos da selva. A única coisa que não estava prevista em sua programação é que ela se afeiçoaria pelo animal e o adotaria como se fosse seu próprio filho.
O filhote de ganso começa a crescer, e seu desejo de se parecer com os outros de sua espécie se assemelha ao sentimento que desenvolvemos na adolescência, quando começamos a querer nos distanciar de nossos pais e buscar nossa própria identidade no mundo. Roz, por sua vez, ao mesmo tempo em que quer lhe dar toda liberdade para crescer e ter independência, percebe que ele ainda não está totalmente pronto, já que precisa aprender a nadar e a voar.
Logo, ela pede para que um ganso mais velho dê aulas de voo a Bico-Vivo todos os dias e, mesmo com todas as dificuldades, está sempre lá para apoiá-lo e não o deixá-lo desistir, por mais difícil que seja. Algum tempo depois, Bico-Vivo já se tornou um ganso com todas as habilidades necessárias e está pronto para voar junto com os outros de sua espécie e deixar a ilha.
O momento de despedida entre mãe e filho é difícil para os dois, mesmo que para Roz seja ainda mais difícil do que para ele, já que, assim como na realidade, os pais nunca estão prontos para ver seus filhos saírem de casa e construírem sua própria trajetória. Com emoção nos olhos, os dois se despedem de forma sutil, mas muito significativa.
Roz agora precisa aprender a ficar um tempo longe de Bico-Vivo e, simultaneamente, o conflito principal da narrativa se estabelece quando ela começa a sentir falhas no seu sistema. Ao mesmo tempo, a empresa que a criou quer tirá-la da ilha e resetar sua programação. Quando Bico-Vivo volta para a ilha, logo em seguida, Roz é sequestrada e levada de volta para seu local original. Todos na ilha se unem para tentar resgatá-la.
No fim, a grande moral da história é que, apesar das diferenças, pessoas ou animais diferentes podem se unir em prol de um bem maior. E, acima de tudo, nem sempre o que faz parte de nossa programação ou propósito original é aquilo que escolhemos para nossa vida.
Animação x Realidade
Quando uma animação consegue dialogar com outras camadas da sociedade e estabelecer conexões com questões políticas e sociais, ela se torna muito mais interessante do que um filme infantil que se propõe a apenas divertir as crianças e arrancar algumas risadas dos mais velhos.
A animação de Chris Sanders é extremamente atual e pode ser facilmente relacionada com a polarização e segregação excessiva que estamos enfrentando no mundo atualmente. Quando todos os animais percebem que têm um propósito que ultrapassa seus instintos naturais, eles se unem para aliar suas habilidades por algo que faria bem à comunidade, apesar de suas diferenças.
Além disso, o avanço da tecnologia e a chegada da inteligência artificial levantam dúvidas sobre os limites entre a programação e o sentimento humano. Onde o relacionamento entre máquinas e seres vivos pode chegar? Será que em breve uma relação afetiva entre um robô e um ser vivo será possível?
Por fim, a história de amor entre Roz e Bico-Vivo também pode ser vista em muitas casas, refletindo o relacionamento entre mães e filhos, adotivos ou biológicos, que precisam enfrentar uma nova fase da vida e aprender a caminhar com seus próprios pés ou voar com suas próprias asas.
★★★★★★★★★★