“O Preço da Verdade” é uma produção poderosa e inquietante, dirigida por Todd Haynes, que mergulha em uma batalha judicial baseada em fatos reais. Situado em Parkersburg, West Virginia, o filme narra a luta de Rob Bilott (Mark Ruffalo), um advogado corporativo que, desafiando as convenções, decide enfrentar uma das maiores corporações químicas do mundo: a DuPont. Tudo começa quando Wilbur Tennant (Bill Camp), um fazendeiro local, busca Bilott, desesperado por respostas sobre a morte inexplicável de seu rebanho e a degradação ambiental de sua propriedade. Intrigado pelas evidências, o advogado inicia uma investigação que rapidamente descortina um problema muito maior: resíduos químicos altamente tóxicos estão sendo despejados na região, contaminando a água e devastando a saúde da comunidade.
O longa destaca os danos profundos causados pela contaminação ambiental. Entre os efeitos descritos estão o aumento de casos de câncer e o nascimento de crianças com anomalias congênitas. Haynes conduz a narrativa com um olhar atento às repercussões humanas dessa tragédia, enquanto Bilott, munido de provas científicas, se depara com uma muralha de resistência institucional. A comunidade, crucial para o avanço do processo, enfrenta dilemas emocionais ao decidir apoiar a luta contra uma empresa que, por décadas, representou progresso econômico na região.
Para dar vida ao determinado advogado, Ruffalo passou semanas em contato direto com o verdadeiro Rob Bilott, mergulhando nos aspectos emocionais e éticos de sua jornada. O elenco, cuidadosamente escolhido, agrega profundidade à história, com atuações de Anne Hathaway como Sarah Bilott, Tim Robbins, Bill Pullman, Victor Garber, Mare Winningham e Bill Camp. Apesar do orçamento modesto de 11 milhões de dólares, os atores se comprometeram plenamente com o projeto, priorizando a relevância da história sobre ganhos financeiros.
Um aspecto marcante da produção é a ausência de colaboração da DuPont, que se recusou a fornecer qualquer suporte. Isso não impediu a equipe de criar uma experiência cinematográfica intensa e impactante. Em vez de efeitos visuais chamativos, o filme investe em uma fotografia melancólica e em um roteiro minuciosamente elaborado, destacando a coragem de Bilott em sua busca por justiça. O resultado foi amplamente elogiado, com 89% de aprovação no Rotten Tomatoes, consolidando a relevância de sua mensagem ambiental e social.
O coração da controvérsia está no uso do ácido perfluorooctanóico (PFOA), um elemento essencial na fabricação do teflon. Altamente durável e amplamente utilizado, o PFOA é também extremamente tóxico e carcinogênico. Uma vez liberado no ambiente, permanece acumulado, envenenando solo, água e, inevitavelmente, pessoas. O filme revela como a DuPont, ciente desses perigos, optou por priorizar lucros em detrimento da saúde pública.
A cruzada de Bilott contra a multinacional é um testemunho de determinação e resiliência. Enfrentando recursos praticamente ilimitados, a empresa prolonga o caso por décadas, transformando-o em um jogo de desgaste. Além de lutar contra a DuPont, o advogado enfrenta desafios internos, como a pressão de seus superiores e o impacto emocional em sua vida familiar. Mesmo assim, ele persiste, motivado pelo sofrimento das vítimas e pela convicção de que a verdade precisa prevalecer.
A obra não apenas expõe os efeitos devastadores da contaminação química, mas também serve como um alerta sobre a responsabilidade corporativa e a fragilidade das comunidades diante de interesses poderosos. “O Preço da Verdade” transcende o gênero de drama judicial ao capturar a luta pela justiça em sua forma mais crua, deixando o público com uma mensagem poderosa sobre a importância de resistir, mesmo diante de adversidades aparentemente intransponíveis.
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