A produção italiana “Já Era Hora”, dirigida por Alessandro Aronadio e escrita em colaboração com Renato Sannio, destaca-se como uma narrativa que explora a importância do tempo dedicado às pessoas que realmente amamos. Inspirada em obras como “Click” e “Te Amarei Para Sempre”, a história acompanha Dante (interpretado por Edoardo Leo), um homem consumido pela pressa e pelos compromissos profissionais. O paradoxo é evidente: ele critica o pai por ser emocionalmente ausente, mas repete os mesmos erros. A esposa de Dante, Alice (Barbara Ronchi), organiza uma festa surpresa para seu 40º aniversário, porém ele chega tarde, após horas de atraso, frustrando os convidados que o aguardaram durante toda a tarde. Para Dante, a noite se encerra como qualquer outra, mas ao acordar, descobre que um ano se passou, e Alice, agora grávida, encara um marido atônito e desorientado com o salto repentino no tempo.
Ao longo da narrativa, Dante se vê preso a uma sequência de saltos temporais que ocorrem de forma abrupta e incontrolável. Diferentemente do protagonista de “Click”, que tem algum domínio sobre os acontecimentos, ou de Henry em “Te Amarei Para Sempre”, cujas habilidades são parte de sua essência, Dante é completamente impotente frente aos saltos. O tempo avança sem aviso prévio: um piscar de olhos, uma porta aberta, uma simples manhã em que acorda. Entretanto, a vida de quem o cerca segue sua cronologia normal, e todos se lembram de fatos e momentos dos quais Dante não tem qualquer lembrança.
Com os anos passando sem que ele os viva plenamente, Dante negligencia sua família, mal conhece a filha e se distancia de Alice. Eventualmente, o casamento termina e, antes que ele se dê conta, sua assistente, Francesca (Francesca Cavallin), torna-se sua namorada e está em sua cozinha. Confuso e com um desejo de reconectar-se com o passado, Dante pede que Francesca vá embora. Ele almeja retomar a relação com Alice, mas sequer sabe onde falhou, pois não esteve presente para vivenciar as rupturas. Em um piscar de olhos, Francesca se torna parte de sua vida doméstica, cercada de amigos em festas. A casa, a vida ao redor de Dante, inclusive Alice e a filha, mudam de forma irreversível. O tempo, impiedoso, revela que ele perdeu todos que importavam. Restam apenas o vazio e a solidão de um homem que viveu de forma mecânica e inconsciente, incapaz de proporcionar ou encontrar felicidade.
“Já Era Hora” se desvela como uma metáfora sobre o quanto nos deixamos levar pela correria da vida moderna. Aronadio e Sannio transmitem a mensagem de que, em nossa busca por conquistas e status, permitimos que o que realmente vale a pena fique em segundo plano. Esquecemos que o maior tesouro da existência é vivenciar intensamente cada momento, apaixonar-se, construir memórias com quem amamos, experimentar a plenitude de estar vivo.
A essência do filme está em sua reflexão sobre a efemeridade da vida. Assim como na narrativa de Dante, a realidade nos lembra que basta um piscar para os anos voarem e, num descuido, as oportunidades se vão. A ficção serve como um alerta, enfatizando que as lições que a arte nos oferece só se tornam valiosas quando somos capazes de incorporá-las ao nosso cotidiano.
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