A combinação de graça, calor e nostalgia faz de “Irmãs” algo mais que um besteirol. A história de duas mulheres muito diferentes entre si que voltam a se conectar com o que podem ter de mais valioso extrapola a comédia fácil de atrizes tarimbadas no ramo, e a direção segura de Jason Moore refuta soluções imediatistas, resultando num conto de família capaz de abordar situações inusitadas ou espantosamente comuns, mas que também dispõem de seu quê de magia. É esse o primeiro gancho usado por Moore para fisgar de vez o espectador, convicto de que todo mundo já viveu experiência similar. O roteiro de Paula Pell concentra-se nas protagonistas, abrindo o ângulo para um universo imensurável de outras figuras que perfazem subtramas igualmente engraçadas, mas sempre cheias de propósito e nunca gratuitas.
Maura e Kate Ellis, as irmãs do título, são como água e óleo. Maura, a caçula, uma enfermeira divorciada de Atlanta, jamais viu qualquer inconveniente em abdicar de muito de sua vida privada para manter a família nos eixos, o que pode ter se tornado o estímulo maior para que Kate chutasse o balde o mais forte que pudesse. A mais velha, uma cabeleireira e mãe solo que acha muito natural valer-se de seus atributos físicos para conseguir o que deseja, não sente necessidade alguma de mudar e mantém os parentes a uma distância confortável, recorrendo a eles quando esta é a única saída. Pell e Moore chegam ao argumento central no momento em que Bucky e Deana, os pais interpretados por James Brolin e Dianne Wiest, resolvem vender a casa onde a família começou, em Orlando, dando às filhas um tempo para tirar seus objetos pessoais — o que quer dizer também uma festa de despedida memorável, que reverbere em toda a Flórida.
Ex-colegas de elenco do “Saturday Night Live”, Tina Fey e Amy Poehler dão o show que se esperaria delas. Não se sabe se subitamente contagiada pelo espírito anárquico da irmã, Maura concorda em dar uma festa de arromba na casa em que cresceram, o que não tarda a virar a maior bacanal que se tem notícia, com direito a um estoque monumental de álcool e tira-gostos e, claro, o reencontro com gente a exemplo de Brinda, a rival de priscas eras de Kate encarnada por Maya Rudolph. “Irmãs” sublinha a sensação de ciclos que se encerram naqueles que ousam lembrar de suas vidas de antes. E nem sempre isso é tanto engraçado quanto Poehler e Fey fazem parecer.
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