A vida é um intervalo curto entre nascer e morrer, durante o qual o homem persegue respostas para questões as mais complexas, as mais incômodas, sabendo que não irá encontrá-las — ou, pior, pensará tê-las encontrado, até que, muito tempo depois, terá de admitir que precipitou-se. Assim mesmo, cada um toma sua cruz e busca sentido para a caminhada, achando uma ou outra mão amiga, umas vacilantes, outras mais firmes, e o medo e a esperança muitas vezes acabam tornando-se uma coisa só. Sem grandes pretensões, “Sempre em Frente”, o drama de família dirigido e roteirizado por Mike Mills, tem um quê de filosofia, exatamente como umas tantas situações insólitas que rondam a existência humana, por mais banal que ela seja quase sempre. Mills elabora cenas de derreter o mais empedernido dos corações observando o vínculo que um homem acostumado à solidão passa a manter com o sobrinho, uma criança ávida por conhecer.
Viv precisa tomar providências quanto ao tratamento psiquiátrico do marido, Paul, no norte da Califórnia e recorre a Johnny, um irmão que não vê há algum tempo. Desse baú de ossos vão saindo mágoas comuns que tomam conta do ambiente, suavizadas pela imagem de Jesse. Esse pequeno núcleo domina os 109 minutos de filme, e cada personagem representa um sentimento bastante específico na história. A doçura irrequieta de Jesse contrasta frontalmente com o amargor dos adultos, incapazes de superar as lembranças de uma época difícil após a morte da mãe. O diretor faz com que a história balance de Gaby Hoffmann para Joaquin Phoenix em movimentos bruscos, que Woody Norman harmoniza. Quando a trama passa afinal ao desempenho de Johnny como o tutor provisório de Jesse, o longa não perde nenhuma das chances que surgem de explorar as diferenças entre os dois, visíveis também no deslocamento de Los Angeles para Nova York e de Detroit para Nova Orleans.
A opção pelo preto e branco é outra das marcas do experimentalismo em “Sempre em Frente”, que Mills tem o hábito de colocar em prática nos assuntos de que encarrega-se, a exemplo do que igualmente se tem em “Toda Forma de Amor” (2011) e “Mulheres do Século 20” (2016). O diretor de fotografia Robbie Ryan aproxima seu trabalho do que se assiste em “Blue Jay” (2016), de Alexandre Lehmann, e ainda assim conserva o frescor de um enredo sobre temas velhos como o mundo, que nunca perdem a força. E o vento talvez jamais traga as respostas.
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