Taika Waititi, diretor conhecido por sua habilidade em transformar histórias de jovens desajustados em narrativas ricas e inesperadas, explora com precisão os dilemas da adolescência e os cenários que levam à rebeldia juvenil. Entre decisões questionáveis, companhias duvidosas e circunstâncias difíceis, a jornada desses personagens é moldada de forma única em seus filmes, nunca se rendendo a soluções fáceis ou superficiais.
Com uma abordagem que mescla humor, drama e um toque de surrealismo, Waititi trouxe à tona o notável “Boy” (2010), onde um garoto dos anos 80 enfrenta a amarga descoberta de que seu pai está longe de ser o herói que ele imaginava. Já em “Jojo Rabbit” (2019), o diretor entrelaçou com maestria a inocência infantil e os horrores da Segunda Guerra Mundial por meio da pequena e corajosa Elsa Korr, uma jovem judia escondida em meio ao caos nazista.
Entre essas duas produções, um título que merece destaque é “A Incrível Aventura de Rick Baker”, uma obra que cativa pelo que comunica explicitamente e pelo que sugere com sutileza. Este filme ilustra de maneira inigualável a aptidão de Waititi para retratar, com complexidade, tanto as nuances do roteiro quanto o visual, criando uma experiência cinematográfica que ressoa por sua profundidade e inovação.
Rick Baker, um jovem de 14 anos, representa um protagonista fora dos moldes convencionais. Vivendo sob o constante olhar das autoridades e enfrentando repetidas rejeições de lares adotivos, seu histórico inclui desde delitos menores até atos de vandalismo, o que o coloca na mira de uma Justiça que flerta com a ideia de uma medida punitiva mais rigorosa. Entretanto, Paula, a conselheira tutelar interpretada por Rachel House, oferece a ele uma última chance, possível graças a uma nova legislação.
Assim, Rick é levado à casa de Bella e Hec, um casal excêntrico que habita a zona rural de Wellington. Bella, interpretada por Rima Te Wiata, e Hec, vivido por Sam Neill, recebem o garoto de forma despretensiosa, imunes às atitudes desafiadoras do novo morador. O roteiro, uma adaptação de Waititi em colaboração com Tearepa Kahi, parte do livro “Wild Pork and Watercress” de Barry Crump, publicado em 1986, ajusta-se para destacar as reais necessidades e aspirações de um adolescente na complexa contemporaneidade.
A história toma um rumo inesperado quando Rick, impulsionado por razões que devem permanecer um mistério, foge para a floresta, dando início a uma aventura que redefine sua trajetória. A partir desse ponto, Waititi constrói uma crítica afiada à sociedade e seus padrões rígidos, abordando temas como exclusão e preconceito de forma sensível e inteligente.
A jornada de Rick e Hec pela vastidão da selva neozelandesa transcende a ação e se apresenta como uma fábula contemporânea sobre autodescoberta e a força do vínculo humano. Sam Neill e Julian Dennison entregam performances que equilibram humor e emoção com precisão. A trilha sonora, com a poderosa “Sinnerman” de Nina Simone, cria uma atmosfera que acompanha Rick em sua busca pela redenção e pelo afeto, capturando a empatia do público, que, independentemente dos atos do protagonista, é levado a torcer por sua jornada.
★★★★★★★★★★