Eddie Morra é o tipo de personagem que fascina pelo contraste: alguém cuja vida desorganizada e sem rumo se transforma radicalmente ao consumir uma substância revolucionária. Em “Sem Limites”, dirigido por Neil Burger, o protagonista descobre o poder de uma pílula que libera todo o potencial de seu cérebro. De um escritor frustrado e à beira do colapso, Eddie se torna uma figura de destaque, conquistando riqueza, notoriedade e uma autoconfiança que jamais havia experimentado. Contudo, o que começa como uma ascensão meteórica revela um subtexto inquietante sobre os perigos de atalhos extremos.
Morra, interpretado com intensidade por Bradley Cooper, vê sua vida mudar após reencontrar Vernon, um ex-cunhado enigmático vivido por Johnny Whitworth. Esse encontro acidental o introduz ao misterioso NZT-48, uma droga capaz de desbloquear cada canto inexplorado da mente. Eddie, antes paralisado por um bloqueio criativo que ameaçava sua carreira literária, subitamente finaliza seu romance e se reinventa como um investidor brilhante. A transformação não se limita à esfera intelectual; ela permeia sua aparência, comportamento e, principalmente, sua capacidade de manipular as situações ao seu favor.
O roteiro de Leslie Dixon, inspirado no romance “The Dark Fields” de Alan Glynn, não apenas explora a busca insaciável por sucesso, mas também levanta questões éticas e existenciais. As semelhanças com “Flores para Algernon”, de Daniel Keyes, são perceptíveis, mas “Sem Limites” consegue se firmar como uma obra com identidade própria. Burger constrói uma narrativa pulsante, na qual cada vitória de Eddie é acompanhada pela iminência do colapso.
A parceria entre Cooper e Robert De Niro, que interpreta Carl Van Loon, um magnata inescrupuloso, eleva o filme a outro patamar. De Niro encarna com maestria o arquétipo do mentor manipulador, alguém que reconhece o valor de Eddie, mas não hesita em explorá-lo ao máximo. A dinâmica entre os dois atores adiciona camadas de tensão e ambiguidade, enquanto Eddie luta para manter o controle em um mundo que exige sempre mais.
Ainda que flerte com o previsível, “Sem Limites” se sustenta pela execução habilidosa e pelas atuações memoráveis. Cooper traz nuances que evitam que Eddie seja apenas um anti-herói genérico; ele é ao mesmo tempo carismático e vulnerável, audacioso e imprudente. Burger, por sua vez, injeta energia e estilo na direção, utilizando recursos visuais para transmitir a expansão cognitiva de Eddie, com sequências que capturam a euforia e o perigo de viver sem restrições.
O filme também levanta um ponto crucial sobre o custo do poder ilimitado. A trajetória de Eddie é uma parábola moderna sobre a natureza humana e suas fraquezas. Ele aprende, da maneira mais difícil, que nenhum avanço vem sem um preço. A dependência da droga, os inimigos que ele atrai e o dilema moral que enfrenta com Van Loon ilustram os riscos de se tornar invencível.
“Sem Limites” é um thriller instigante que, embora não reinvente o gênero, oferece uma experiência intensa e reflexiva. O que poderia ser um conto de moral simplista sobre ganância e ambição se transforma em uma exploração fascinante das complexidades da mente humana. Com momentos de brilhantismo pontuados por um senso de urgência, o filme reafirma o talento de Cooper e a habilidade de Burger em manter o público cativado do início ao fim.
★★★★★★★★★★