O segredo mais bem guardado do streaming: um dos melhores suspenses do ano está escondido na Netflix Divulgação / Netflix

O segredo mais bem guardado do streaming: um dos melhores suspenses do ano está escondido na Netflix

O caminho percorrido pelas mulheres para alcançar a posição que sempre lhes pertenceu foi longo e repleto de obstáculos. Uma cultura profundamente enraizada e, muitas vezes, opressiva, solidificou a ideia de que o papel feminino se limita à manutenção do lar, ao cuidado com os filhos e às obrigações que orbitam esse universo. Esse modelo, com o tempo, esgota qualquer idealização romântica e reflete na dificuldade de retorno ao mercado de trabalho. A sabedoria popular afirma que “o combinado não sai caro”, e se a decisão de se dedicar à vida doméstica é voluntária, que traga satisfação.

Contudo, quando um relacionamento ocorre em um momento crucial da carreira, como no caso de Emily, protagonista de “Jogo Justo” (2023), e essa escolha é forçada por pressões veladas de quem deveria ser um apoio, o sonho de realização pessoal desmorona. Emily, interpretada de forma cativante por Phoebe Dynevor, se encontra em um dilema que se inicia com uma quebra de regras em um ambiente já hostil. Ela e Luke, personagem de Alden Ehrenreich, começam seu romance num cenário carregado de riscos e tensões, ignorando que a transgressão viria a atingi-los diretamente.

Após sua estreia no Festival Internacional de Cinema de Toronto (TIFF) em setembro de 2023 e uma exibição em Sundance, “Jogo Justo” se apresenta como um filme com execução eficiente, sem pretensões grandiosas, mas capaz de capturar a atenção. A trama desenvolve-se sabendo que a relação entre Emily e Luke está fadada a um desfecho previsível.

O encanto de “Jogo Justo” está na antecipação do ponto em que a narrativa mudará de direção e na intensidade dessa transição. O roteiro de Chloe Domont posiciona Emily em um momento de introspecção, isolada no terraço de um edifício, enquanto uma festa toma conta do salão ao lado. No entanto, ela não está à beira de um colapso, mas sim é reconduzida ao centro da ação por Luke. A sequência que se segue culmina em um pedido de noivado realizado de forma impulsiva e crua, enfatizando a natureza complexa do vínculo entre eles.

À medida que a ascensão repentina de Emily começa a alterar a dinâmica entre o casal, a narrativa desacelera, mas isso pouco afeta a experiência. O objetivo é provocar e testar os limites do público, mantendo-o em suspense até o ápice, sugerindo que o verdadeiro interesse está em observar as reações humanas, principalmente quando misturadas com desejo e poder.

A trama, que poderia ser uma análise das disputas corporativas, se revela uma sátira perspicaz sobre as intricadas dinâmicas emocionais dos relacionamentos, sejam eles de pessoas ricas ou comuns, bem-sucedidas ou não. Dynevor e Ehrenreich, além de carismáticos, entregam atuações que equilibram agressividade e paixão, refletindo uma dualidade que se desdobra até o fim, onde o embate verbal e físico deixa evidente o tom final da obra.

O desfecho com uma conversa intensa e marcada por violência apenas reforça a proposta de Domont: a exposição do lado mais sombrio dos relacionamentos e a luta por equilíbrio em um cenário competitivo e imprevisível.

Filme: Jogo Justo
Diretor: Chloe Domont
Ano: 2023
Gênero: Drama/Erótico/Mistério/Suspense
Avaliaçao: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★