Hollywood nunca deixa de revisitar momentos cruciais da história, transformando-os em narrativas impactantes. A mais recente contribuição a essa tradição é “Air: A História Por Trás do Logo”, uma obra de Ben Affleck e Matt Damon que detalha os bastidores de um contrato que redefiniu o marketing esportivo: a parceria entre a Nike e Michael Jordan. Com diálogos ágeis e incisivos, a produção evoca o estilo de Aaron Sorkin, uma característica que já ressoava no clássico “Gênio Indomável” da mesma dupla criativa.
Sob a direção de Affleck e com um roteiro assinado pelo estreante Alex Convery, o filme apresenta Matt Damon como Sonny Vaccaro, um dos nomes mais influentes no basquete. Vaccaro foi responsável por descobrir talentos como Kobe Bryant e LeBron James, mas seu vínculo com a Nike e Jordan, embora histórico, acabou em ruptura anos depois. No entanto, o início dessa relação, em 1984, é o ponto focal da narrativa. Naquele período, Vaccaro trabalhava no marketing da Nike, uma marca que enfrentava forte concorrência de gigantes como Adidas e Converse. A Nike, com um orçamento modesto e uma posição de mercado em declínio, precisava de uma estratégia ousada para se reposicionar.
A proposta revolucionária de Vaccaro era investir todo o orçamento de marketing em um único jogador: Michael Jordan. Na época, Jordan era apenas uma promessa de 21 anos, longe do status de lenda que alcançaria. Ainda assim, Vaccaro acreditava no potencial do atleta, convencendo o CEO da Nike, Philip Knight (interpretado por Affleck), a apostar tudo nessa parceria. Mas o desafio não era apenas financeiro. Jordan preferia a Adidas e, como segunda opção, a Converse. Convencer o jovem jogador e seu empresário, David Falk (Chris Messina), a escolher a Nike exigiria uma estratégia ousada e uma proposta sem precedentes.
O filme explora os riscos e incertezas desse momento crucial. Jordan não era o principal jogador dos Chicago Bulls, e o mercado poderia não responder bem a uma linha de produtos inovadora, mas arriscada. A primeira coleção Air Jordan enfrentou até mesmo a resistência da NBA, que possuía regras rígidas sobre a cor dos calçados. Desafiando o regulamento, a Nike decidiu pagar todas as multas impostas pelos tênis predominantemente vermelhos e pretos, cores do Chicago Bulls. Esse gesto de rebeldia e inovação contribuiu para moldar o estilo e a cultura do basquete como conhecemos hoje.
O contrato entre Jordan e a Nike não só foi um sucesso imediato como estabeleceu novos padrões na indústria. Pela primeira vez, um jogador garantiu uma comissão sobre as vendas, um termo insistido por Deloris Jordan (Viola Davis), mãe e mentora de Michael. Esse modelo de negócio não apenas transformou a Nike em um colosso do mercado esportivo, avaliado em bilhões, mas também abriu caminho para que atletas se tornassem marcas próprias.
Ao longo do filme, a narrativa reforça a autenticidade ao consultar diretamente os protagonistas da história, Vaccaro e Jordan, que validaram a precisão dos eventos retratados. Mais do que uma celebração do capitalismo, “Air” é um estudo sobre determinação, visão de mercado e o impacto cultural de uma aposta ousada. Com atuações de alto nível e uma direção sólida, o longa é uma experiência que vai além do entretenimento, oferecendo uma reflexão sobre como um único contrato pode redefinir uma indústria inteira.
★★★★★★★★★★