“In/Feliz por Você” é romântico e trágico do começo ao fim, com todos os exageros que permitem o amor, a paixão e a loucura desta, que quase sempre mata o primeiro — mas não aqui —, além da harmonia de um canto orfeônico entoado a pulmões cheios por anjos dignos de impossíveis catedrais. O longa do filipino Petersen Vargas mescla um enredo açucarado, cheios de passagens de franca exaltação ao amor eterno e sem limites e abobrinhas que tais, como tem sido a tônica nos filmes daquele pequeno país insular do Sudeste da Ásia, ao amargor da separação, resultando num conto realista sobre um ex-casal às voltas com suas lembranças mais íntimas e a imposição de um novo sentimento. Os roteiristas Simon A. Arciaga, Kookai Labayen e Crystal S. San Miguel levam o espectador a um passeio por essa relação delicada e em constante metamorfose, colocando na mesa algumas das faces ocultas da mais humana das emoções.
Como todos os prazeres de que o homem desfruta e contra os quais flagra-se numa batalha encarniçada, tentando se libertar e cada vez mais enredando-se em seus fios, feito a mosca na teia da aranha, o amor tem predicados e defeitos de que se gosta ou se desgosta em maior ou menor proporção, despertando assim reações as mais imprevisíveis a depender de quem atinja. Em menos de um segundo passam-se décadas e já não parecemos mais tão novos; esperamos que alguém nos desperte antes de sair, e impeça que o sol se ponha nas nossas costas sem que possamos nos defender. Ninguém ama impunemente, e essa é a ideia que mais destaca-se no transcorrer dos 110 minutos de “In/Feliz por Você”, que capta a transformação de amor jovem, cândido, inexperiente e frágil numa bomba de mágoas e rancores, algo muito próprio do tornar-se gente.
Juancho, o chef de cozinha vivido por Joshua Garcia, e Zy, a personagem de Julia Barretto, alguém ainda à procura de lugar no mundo, atestam que cada mulher e cada homem é um universo muito particular, centrado em normas próprias, que funcionam com algum grau de acerto — ou não se estenderiam ao longo dos anos — e ideias específicas sobre o que é o mundo, um lugar hostil mesmo que não queira, com suas tantas revoluções sempre insistindo em botar abaixo tudo o que já existe há muito, muito tempo, sem saber muito bem como substituir toda a ruína de um sistema inquestionavelmente repleto de enganos, mas louvado por saber reconhecer quem vence dos eternos perdedores. O diretor elabora a difícil arte do rompimento alternando entre os dois o papel de antagonista. Quem está ferido? Quem feriu? Quem lutou? Quem deixou ir? Essas são perguntas que os dois se respondem, com a ajuda do público, que para tal também resgata suas memórias (in)felizes.
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