O recorde mundial da Netflix: a série que passou mais de 500 dias no Top 10

O recorde mundial da Netflix: a série que passou mais de 500 dias no Top 10

Assane Diop não é um criminoso qualquer. Vinte e seis anos depois de um episódio trágico na adolescência, o filho do motorista da família Pelligrini volta com sede de vingança pelo pai, preso por um crime que não cometeu. Boa parte de “Lupin” gira em torno de um certo colar de pérolas e diamantes que pertenceu a Maria Antonieta (1755-1793), extraviado depois que a rainha consorte da França perdeu o trono e a cabeça com a Revolução de 1792. Depois disso, a série criada por George Kay e François Uzan depende muito do carisma de Omar Sy, o próprio ladrão de casaca da coletânea homônima de nove histórias curtas de Maurice Leblanc (1864-1941), publicada em 1907.

Acostumado a sofrer quieto, Assane passa a vida dedicando-se a botar as mãos no tal colar, agora em exposição no Louvre, após o pai ter sido acusado de roubo pelo patrão, o dono da joia. Os cinco capítulos da primeira temporada, exibidos pela Netflix em 2021, dividem-se entre o absurdo plano de Assane de apoderar-se da relíquia e seus tantos efeitos colaterais, com direito a um reencontro cheio de revelações.

Kay e Uzan inserem seu protagonista na história abusando dos flashbacks em que Assane surge aos catorze anos, andando com o pai pelas ruas de Paris. Os dois veem Anne, a esposa de Hubert Pellegrini, parada no meio da rua durante uma tempestade, sem conseguir dar a partida no carro, e ajudam-na. Anne, de Nicole Garcia, parece mais compreensiva e empática que o marido, Hubert Pellegrini, mas como se vai assistir na sequência, ela não se envolve o bastante para evitar a detenção de Babakar Diop, que acaba cometendo suicídio no cárcere. As interações entre Mamadou Haidara, o Assane adolescente, Garcia e Fargass Assande, rendem boas cenas, em especial aquela em que o garoto enterra o pai só, numa sepultura sem lápide, e ainda tem de aturar a hipocrisia da madame — neste ponto, Assane se rebela e lava a alma do espectador. 

A mãe, Mariama Diop, uma ausência perturbadora ao longo de quase toda a narrativa, aparece muito mais tarde, bem depois do roubo do colar no Louvre, quando Assane passa a perna nos bandidos a que se aliara, e os diretores não deixam de explorar também esse mote, guardando para o terceiro e o último segmento bons lances entre os personagens de Sy e Naky Sy Savané, e fazendo de “Lupin” um amálgama feliz de policial, comédia e drama de família.


Série: Lupin
Criação: George Kay e François Uzan 
Anos: 2021-2023
Gêneros: Thriller
Nota: 8/10

Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.