O diretor Lee Isaac Chung, conhecido pela sensibilidade e o estilo contemplativo que trouxeram vida ao aclamado “Minari”, agora explora novos horizontes em um filme de perfil muito diferente: “Twisters”. Abandonando a narrativa intimista e autobiográfica, Chung mergulha no cinema de ação e aventura em uma sequência moderna e visualmente impactante do clássico de 1996, “Twister”. No entanto, mesmo neste cenário de catástrofes naturais, a marca estética do diretor permanece visível, com a tentativa de unir profundidade emocional e espetáculo visual.
“Twisters” traz uma nova geração de rostos carismáticos, com Glen Powell e Daisy Edgar-Jones no centro da trama. Edgar-Jones interpreta Kate Cooper, uma cientista e ex-caçadora de tornados que, após uma tragédia que resultou na morte de seu parceiro e de um amigo, decide abandonar o campo. Kate agora trabalha em Nova York com monitoramento climático, mas é incentivada a retomar o contato com os tornados quando seu colega Javi (Anthony Ramos), a convence a testar um novo sistema de rastreamento em Oklahoma. Este sistema visa estudar o comportamento dos tornados em tempo real e, com isso, avançar na tecnologia de prevenção e alerta de desastres naturais.
A expedição de Kate logo se vê em competição com um grupo rival liderado por Tyler Owens (Glen Powell). Tyler é um caçador de tempestades que ganhou fama ao compartilhar suas aventuras nas redes sociais, conquistando um público curioso e fiel. Com um estilo mais ousado e irreverente, ele se torna o contraponto de Kate, cujo trauma passado torna-a mais cautelosa e introspectiva. Esse embate entre personagens, de personalidade e motivações distintas, acentua as tensões no enredo e traz uma camada de reflexão sobre ética e os limites do risco para a ciência e o espetáculo.
Conforme os tornados se intensificam na região, as equipes enfrentam desafios cada vez mais perigosos e questões de moralidade. A situação torna-se um verdadeiro teste para Kate, que vê nesta missão uma oportunidade não apenas de superação pessoal, mas também de testar um composto químico experimental com potencial para dispersar tornados. A inovação poderia representar um avanço significativo na proteção contra desastres naturais, mas sua eficácia e segurança ainda estão longe de serem comprovadas, o que adiciona um elemento de risco ético à narrativa.
Apesar de “Twisters” trazer um contexto propício para uma abordagem crítica sobre as mudanças climáticas e seus impactos, Chung opta por não explorar o tema de forma explícita. A crítica social fica apenas sugerida, subentendida em meio ao espetáculo das cenas de ação e nos diálogos ocasionais. Embora o potencial para uma reflexão mais profunda esteja presente, o diretor parece preferir focar na experiência visual e sensorial, deixando as questões ambientais em segundo plano.
O filme, no entanto, oferece aos espectadores cenas de tirar o fôlego, com sequências de ação repletas de adrenalina e efeitos práticos que remetem à nostalgia do filme original. Chung escolheu rodar “Twisters” em filme Kodak 35mm, o que confere ao longa uma textura e uma paleta de cores naturais e vibrantes, resgatando o espírito dos anos 90 em plena era digital. Essa decisão técnica não é apenas estética, mas também uma homenagem à cinematografia do primeiro “Twister”, capturando a intensidade da natureza com uma autenticidade rara nos dias de hoje.
A ideia de uma sequência para “Twister” remonta a uma proposta do próprio Bill Paxton, protagonista do original, que buscou durante anos viabilizar a continuação da história. Paxton, que faleceu em 2017, não teve a oportunidade de ver seu projeto se concretizar, e o filme passou por uma série de adiamentos antes de finalmente entrar em produção. Em 2012, a sequência chegou a ser cogitada, mas o projeto foi cancelado devido a dificuldades financeiras e falta de interesse dos estúdios. Quando finalmente conseguiu sinal verde para a produção, o filme enfrentou novos contratempos, com filmagens adiadas pela pandemia em 2020 e, posteriormente, pelo impacto da greve dos roteiristas de Hollywood em 2023. Essas dificuldades impactaram diretamente o cronograma de produção e pós-produção do filme.
Apesar de estrear em julho de 2024, “Twisters” foi concluído apenas em fevereiro do mesmo ano, deixando uma janela de tempo apertada para a finalização dos efeitos visuais e ajustes finais. O longa foi entregue apenas duas semanas antes da estreia, um feito técnico que envolveu uma maratona de esforços da equipe de produção e pós-produção.
“Twisters” entrega uma experiência intensa, com doses equilibradas de nostalgia e modernidade, e reafirma a habilidade de Lee Isaac Chung em conduzir histórias humanas mesmo em um cenário de blockbuster. A mistura de ação, suspense e drama é pontuada pela habilidade técnica e a visão sensível do diretor, que imprime sua marca mesmo em uma produção de escala grandiosa.
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