M. Night Shyamalan ocupa um lugar singular entre cineastas internacionais, especialmente por seu talento em criar narrativas intrigantes e atmosferas de suspense. Apesar de suas raízes indianas, seu trabalho está imerso na cultura cinematográfica dos Estados Unidos, refletindo o estilo, os temas e a estética típicos de Hollywood. Shyamalan vive e desenvolve sua carreira nos EUA há décadas, o que o distancia do cinema indiano em termos de influência e abordagem. É seu toque particular no suspense psicológico, porém, que o distingue e lhe garantiu renome mundial.
O ponto de virada em sua carreira veio com “O Sexto Sentido”, filme que se tornou um marco cultural e consolidou Shyamalan como um mestre das reviravoltas. Seus outros filmes, como “A Vila”, “Corpo Fechado” e “Fragmentado”, talvez não tenham atingido o mesmo nível de popularidade, mas atraíram uma base de fãs fiel e ampliaram sua reputação. Contudo, sua trajetória não foi linear; Shyamalan enfrentou momentos de altos e baixos, com alguns filmes recebendo críticas pesadas. Mais recentemente, o lançamento de “Armadilha” exemplificou essa ambiguidade em sua carreira, gerando reações divididas entre crítica e público.
Em “Armadilha”, Shyamalan escalou Josh Hartnett, que retornou ao centro das atenções com seu papel em “Black Mirror”, após um período de afastamento. Hartnett interpreta Cooper, um bombeiro que também é um pai devotado à sua filha adolescente, Riley, interpretada por Ariel Donoghue. Cooper é respeitado em sua comunidade e parece ser a personificação do cidadão honrado. A história ganha forma quando ele decide levar Riley a um show de sua cantora pop favorita, Lady Raven, interpretada por Saleka Shyamalan, filha do diretor.
Durante o evento, Cooper nota que a segurança está intensificada, o que desperta sua curiosidade. Ao questionar um vendedor de camisetas, ele descobre que a polícia foi alertada de que o perigoso serial killer conhecido como “O Açougueiro” estaria presente no show. A partir daí, Shyamalan expõe o segredo central do filme de forma impactante: Cooper é, na verdade, o próprio Açougueiro, um assassino em série.
O desenvolvimento da trama acompanha as tentativas de Cooper de escapar do show sem que Riley ou a polícia descubram sua verdadeira identidade. A tensão aumenta à medida que ele se esforça para manter a fachada de pai dedicado, ao mesmo tempo em que precisa planejar sua fuga. Riley, como o restante da família, desconhece totalmente o lado sombrio de seu pai, e a narrativa se intensifica com a progressão das dificuldades que Cooper enfrenta em seu disfarce.
O clímax se desenrola quando Cooper leva Riley para conhecer Lady Raven, usando o encontro como uma distração para facilitar sua fuga. No entanto, o final do filme não alcança o impacto emocional esperado. Shyamalan, que é famoso por desfechos surpreendentes, opta aqui por uma conclusão mais previsível, que, para muitos, carece da profundidade e complexidade características de suas tramas. A interpretação de Hartnett, embora competente, revela uma inquietação que compromete a credibilidade em alguns momentos, fragilizando o suspense.
“Armadilha” deixa uma abertura para uma possível continuação, mas a resposta morna da crítica e do público coloca em dúvida essa sequência. A narrativa não conseguiu reviver o mistério e a intensidade que marcaram as fases mais bem-sucedidas de Shyamalan. O filme exemplifica o contraste presente na carreira do diretor, que alterna entre acertos memoráveis e deslizes significativos. Ainda que continue sendo uma figura proeminente no gênero do suspense, “Armadilha” revela que a mesma fórmula de outrora nem sempre garante o mesmo êxito em novos projetos.
Assim, “Armadilha” se mostra como um reflexo das complexas escolhas de Shyamalan, que mesmo após tantos anos de carreira, não hesita em explorar novas direções, mesmo que, em algumas ocasiões, o resultado fique aquém do esperado.
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