A obra-prima oculta da Netflix — um filme que vai desafiar o que você sabe sobre o amor Murray Close / Universal Pictures

A obra-prima oculta da Netflix — um filme que vai desafiar o que você sabe sobre o amor

Tim, protagonista de “Questão de Tempo”, chega aos 21 anos alimentando a fantasia de que revisitar momentos específicos de sua vida, com a convicção de ter respostas para todos os dilemas, seria a chave para alcançar uma existência ideal. No entanto, mesmo que tal poder fosse real, nada asseguraria a ausência de novos desafios e contratempos. Essa é uma possibilidade que o obriga a encarar a realidade das surpresas inevitáveis da vida — um ciclo de aprendizado e frustração que constitui a essência da experiência humana.

O conceito de repetir o passado foi explorado com humor e profundidade por Harold Ramis em “Feitiço do Tempo” (1993), com Bill Murray interpretando Phil, um meteorologista preso em um dia que se repete interminavelmente. Durante esse período cíclico, ele enfrenta os impactos de sua própria superficialidade e busca, por fim, evoluir para merecer uma segunda chance no presente.

Richard Curtis, em contraste, dá a Tim a habilidade de avançar e retroceder livremente, mas sem a possibilidade de alterar a vida alheia — um detalhe que ressalta a ironia e os limites do desejo humano por controle. A narrativa de Curtis, marcada por uma generosa dose de licença poética, captura a audiência em uma viagem rica em emoção, repleta de momentos que mesclam humor e reflexão.

Em uma cena central, Domhnall Gleeson, que traz ao personagem uma combinação de sinceridade e vulnerabilidade, dialoga com o pai (interpretado por Bill Nighy), revelando o segredo familiar que mudará seu entendimento da vida. Essa conversa é pontuada por uma tensão sutil, como se anunciasse a revelação de um universo oculto. A dinâmica entre os dois atores sustenta a narrativa, mostrando um protagonista mais maduro em comparação a outros papéis de Gleeson, como o ingênuo de “Ex_Machina — Instinto Artificial” (2015), mas que ainda mantém uma curiosidade sagaz.

O enredo é enriquecido pelas participações femininas de destaque, especialmente Charlotte, interpretada por Margot Robbie, e Mary, vivida por Rachel McAdams. Essas personagens injetam energia e complexidade em uma história que, de outra forma, poderia se concentrar excessivamente nos dilemas dos protagonistas masculinos. Curtis revisita temas de suas obras anteriores, como “Simplesmente Amor” (2003), mas com diálogos mais incisivos e pontos de vista renovados, transmitindo uma mensagem otimista: o amor e a vida não precisam de truques para serem extraordinários.

Tim, ao longo de sua jornada, descobre que a vida, por mais doce que seja, também é imprevisível e, por vezes, vertiginosa. A tentativa de escapar para uma realidade alternativa não promove uma transformação imediata e completa. Ao final, o que permanece é o aprendizado essencial: cada momento de inquietude faz parte do crescimento, e o valor da vida reside em suas imperfeições e incertezas.

Filme: Questão de Tempo
Diretor: Richard Curtis
Ano: 2013
Gênero: Coming-of-age/Ficção Científica/Romance
Avaliaçao: 9/10 1 1
★★★★★★★★★