O longa “Uma Linda Vida” narra a trajetória de um protagonista que, mesmo em meio a circunstâncias difíceis e inesperadas, busca uma virada significativa em sua existência. Este personagem central, interpretado por Christopher Nissen, encontra-se em um percurso marcado por encontros e desencontros que parecem se alternar em um intervalo de tempo estreito. O cineasta irano-dinamarquês Mehdi Avaz demonstra um domínio impressionante ao conduzir essa história de forma que as tensões se tornem quase tangíveis, permitindo que a narrativa siga seu rumo natural, sem intervenções abruptas. Em um momento oportuno, ele insere o elemento romântico, equilibrando-o com o tom de fatalismo que permeia a trama, garantindo que a relação amorosa se desenvolva sem desviar do tema central.
Avaz utiliza o argumento de Stefan Jaworski para moldar a obra com um toque contemporâneo de conto de fadas, embora com ajustes que fogem do convencional. Já na sequência inicial, o rumo da história é traçado, com Elliott, um jovem protagonista e músico de certo reconhecimento na Dinamarca, sendo apresentado em meio ao trabalho árduo de carregar bandejas de peixes em uma manhã fria e ensolarada no cais. O diálogo entre ele e o supervisor da doca deixa claro que Elliott enfrenta dificuldades financeiras, e as cenas seguintes revelam mais detalhes sobre sua realidade e os dilemas que enfrenta silenciosamente. Este personagem é construído como o típico anti-herói: reservado, endurecido pelos desafios e resiliente, aceitando a dureza da vida como parte de sua natureza inescapável. Nissen personifica bem essa figura, lembrando os protagonistas marcantes de Paul Newman, com seu charme contido e presença forte.
A partir desse ponto, a narrativa explora a transformação de Elliott, que vislumbra uma chance de melhorar sua vida por meio de seu talento musical, enquanto lida com a complexidade de sua amizade com Oliver, um parceiro de tempos de glória que, ultimamente, tem se mostrado um obstáculo. A performance de Sebastian Jessen enriquece o que Nissen havia apresentado até então, preparando terreno para um segundo ato repleto de luz, mas que evita resoluções simplistas.
O magnetismo de Nissen mantém o público conectado, mesmo quando o enredo se aproxima de uma simplicidade excessiva. No desenrolar do terceiro ato, um evento dramático — um incêndio — redefine o destino de Elliott. Ainda que Avaz opte por uma abordagem de reinício radical, essa reviravolta abrupta pode ser interpretada como um castigo desproporcional ao modo como o protagonista conduziu sua parceria com Oliver. O clímax, com a gravação de um videoclipe, proporciona a Elliott uma redenção tardia e um romance inesperado com Lilly, a filha de sua empresária, interpretada por Inga Ibsdotter Lilleaas, cuja atuação confere veracidade ao papel.
★★★★★★★★★★