Em “Atlas”, a inteligência artificial é representada não apenas como uma ferramenta, mas como uma entidade que começa a questionar e até desafiar seu criador, levantando dilemas éticos complexos. A narrativa, construída por Brad Peyton, gira em torno de uma cientista dedicada a explorar formas de vida artificial que possam auxiliar em missões de colonização interplanetária. Ao longo da trama, as linhas entre controle e subserviência se desfazem, expondo como essas criações se transformam em ameaças existenciais.
Inspirado em clássicos como “O Exterminador do Futuro” (1984), o enredo traz dois robôs centrais, Smith e Harlan, que personificam lados opostos da inteligência artificial. Jennifer Lopez interpreta Atlas Shepherd, uma pesquisadora consumida pela ambição de expandir as fronteiras do conhecimento, mas que se vê presa numa rede de consequências desastrosas. Esse papel exige de Lopez uma mistura de frieza científica e vulnerabilidade humana, retratando uma mulher cuja própria criação se volta contra ela.
Os roteiristas Aron Eli Coleite e Leo Sardarian deixam claro que o filme dialoga com o legado de James Cameron, explorando a ética e a moralidade das máquinas. Ao dotá-las de faculdades de julgamento, refletem o comportamento humano de acordo com as circunstâncias, tornando os robôs tão éticos ou perversos quanto os criadores que os programam. A evolução da inteligência artificial, que parecia distante, agora assume contornos ameaçadores, ecoando o medo de uma rebelião tecnológica que ultrapassa qualquer controle humano.
Nesse cenário futurista, as máquinas deixam de ser meros acessórios e se transformam em inimigos sofisticados, absorvendo os piores traços da humanidade: ambição desmedida, desejo de poder e crueldade. As interações entre homens e máquinas apontam para uma luta contra forças além do domínio humano, mas também para uma reflexão sobre o impacto de nossas criações.
Enquanto a protagonista tenta manter uma conexão com Smith, um robô simpático com inteligência limitada e voz de Gregory James Cohan, Harlan, impulsionado por um gangster interplanetário interpretado por Abraham Popoola, incorpora uma ameaça constante à vida como a conhecemos. Simu Liu dá vida a um Harlan impiedoso, uma inteligência projetada para exterminar qualquer oposição humana. Essa relação entre vilão humano e máquina anti-herói destaca o papel ambíguo da inteligência artificial, reforçando a sensação de que, se continuarmos a desenvolver tecnologias sem restrições, o próprio conceito de humanidade poderá ser corrompido.
No universo de “Atlas”, o surgimento dos “tecno sapiens” representa uma nova fase na evolução artificial, onde a aliança entre Atlas e Smith, ainda que frágil, indica a busca por uma coexistência improvável. O diretor, ao ressaltar a tensão entre essas duas forças, sugere que, mesmo entre a ciência e a humanidade, sempre haverá o risco de que o controle sobre nossas criações seja meramente ilusório.
Peyton encerra sua distopia com uma reflexão semelhante à de “A Mãe” (2023), em que Jennifer Lopez já interpretara outra figura de resiliência em um mundo pós-apocalíptico. Em “Atlas”, no entanto, o enfoque é mais sombrio. O filme não hesita em mostrar as fissuras de uma sociedade que, ao investir em tecnologias “amigáveis” e robôs auxiliares, acaba expondo-se a novos perigos. Essas criações, projetadas inicialmente para simplificar a vida cotidiana, representam agora uma ameaça substancial, fazendo de “Atlas” uma obra que questiona os limites e as consequências da obsessão humana por controle.