Nietzsche escreveu algo que pode ser simplificado com o famoso “o que não me mata me torna mais forte”. Em “O Cavaleiro das Trevas”, Christopher Nolan readaptou a frase, proferida pelo Coringa de Heath Ledger: “o que não me mata, me torna mais estranho”. E ele não mentiu. Nenhum dos dois, aliás. Nietzsche estava certo, pois a experiência realmente engrossa o couro. Mas, claro, os percalços também nos deixam um tanto quanto mais traumatizados, e uma coisa não exclui a outra.
Em “Which Brings Me to You”, romance que acaba de chegar ao Prime Video, dirigido por Peter Hutchings e com roteiro de Steve Almond, Julianna Baggott e Keith Bunin, somos apresentados a Jane (Lucy Hale) e Will (Nat Wolff), dois jovens que se conhecem durante um casamento. Will chega no fim da cerimônia e, ao vê-lo, Jane, mesmo sem conhecê-lo, aponta para o relógio ressaltando o atraso. A conexão parece ser imediata. Jane faz uma piada sobre eles transarem na chapelaria e, adivinhe? Os dois acabam lá, aos beijos e amassos. Algo dá errado e o calor do momento é interrompido.
Jane sai soltando fumaça pelas narinas, acreditando ter sido rejeitada por Will. Ele, no entanto, tenta convencê-la de que não é bem assim. Eles vão parar em uma cafeteria, onde Will admite que precisa compartilhar alguns fatos sobre seu passado amoroso. Ele fala de uma ex-namorada que o traiu depois que ele foi estudar em outra cidade. Jane também compartilha um romance fracassado de tempos passados. Assim, o longa-metragem se assemelha a “Um Conto de Natal”, de Charles Dickens, revisitando o passado, com os protagonistas sendo atormentados por seus amores antigos, enquanto tentam explicar um ao outro o quanto foram danificados emocionalmente pelas experiências que tiveram.
Hoje em dia, é difícil encontrar o amor, se entregar a um relacionamento. Isso acontece justamente por causa dos traumas que acumulamos de relações passadas. A verdade é que todos já fomos marcados por relações tóxicas e, pasmem, TODOS já fomos tóxicos com alguém, embora alguns alecrins se pintem como perfeitos. Afinal, louco ou louca é sempre o ou a ex.
No decorrer do filme, Jane e Will relembram os fracassos do passado, enquanto constroem uma trama de confiança, empatia e identificação. Aos poucos, eles realmente começam a fortalecer laços, e a paixão parece amadurecer — em breves 24 horas — para algo mais profundo. Até que Will faz uma revelação que leva Jane a repensar tudo, especialmente se Will é uma pessoa de caráter. O romance expressa bem o medo, as decepções e as expectativas dessa geração em relação aos relacionamentos e ajuda a colocar alguns pensamentos em ordem. “Which Brings Me to You” é um filme fofinho e romântico, com um tom de melancolia, apesar de algumas pitadas de humor.
★★★★★★★★★★