Poucos atores em Hollywood podem se dar ao luxo de dizer que participaram de tantas franquias bem-sucedidas do cinema como Sylvester Stallone. Indicado a três Oscars, o ator e cineasta fez história ao perceber que jamais se encaixaria nos perfis de protagonistas de filmes americanos da década de 1970 e criar seu próprio personagem e roteiro em “Rocky”, que não apenas lhe deu o Oscar, mas também o alavancou a um sucesso estrondoso e duradouro. Depois disso, é claro, não faltaram papéis em Hollywood. Mas um novo fenômeno mundial surgiria na carreira de Stallone: “Rambo”.
Lançado dez anos após a publicação do livro de David Morrell, em 1972, “First Blood”, “Rambo” trouxe Stallone não apenas como intérprete de John Rambo nas telas, mas também como um ator que ajudou a remodelar um tipo de papel no cinema com suas atuações. O homem durão já não precisava ser desprovido de sentimentos, ser frio e calculista. Stallone mostrou que os bad boys choram, sim. E John Rambo é um exemplo perfeito de anti-herói atormentado.
Veterano de guerra, Rambo não apenas luta para se adaptar à vida comum americana após testemunhar os horrores da guerra, mas também para superar o estresse pós-traumático, que transformou sua vida em um verdadeiro tormento. O enredo se passa sete anos depois de seu retorno do Vietnã e de sua readaptação à vida civil. Embora o livro já fosse um sucesso nos Estados Unidos, Stallone tinha sua própria visão do personagem e, com isso, refez todos os seus diálogos, criando um protagonista com maior projeção que o das páginas, definindo para ele uma estética física, uma linguagem corporal e outras características que contribuíram para a imagem do personagem, ressoando ao longo das décadas seguintes.
Apesar de o longa-metragem dirigido por Ted Kotcheff evoluir rapidamente para cenas de ação, “Rambo” é visto como um filme mais psicológico e dramático do que suas sequências. A história se passa em Hope, uma pequena cidade no interior de Washington, onde Rambo viaja para tentar encontrar um colega de pelotão. No entanto, ao chegar ao endereço do amigo, ele é informado de que este morreu de câncer devido à exposição ao agente laranja. Enquanto caminha por uma área afastada da cidade, Rambo é surpreendido por uma abordagem policial. O xerife local, Will Teasle, o trata imediatamente como um marginal, levando-o preso e maltratando-o na delegacia.
A situação desperta em Rambo o instinto de sobrevivência que ele precisou desenvolver no Vietnã. Sentindo-se novamente em perigo, devido às lembranças traumáticas da guerra, Rambo foge, mobilizando toda a polícia local para capturá-lo. A caçada ocorre principalmente nas florestas que cercam a cidade. À medida que os agentes o perseguem, ele se vê obrigado a utilizar as técnicas e táticas aprendidas na guerra, tornando-se uma máquina letal fora de controle. O filme, ao mesmo tempo em que fervilha ação e adrenalina, também traz elementos altamente dramáticos e densos. O sucesso do trabalho cinematográfico foi tanto que fez o próprio autor do livro admitir que prefere o filme “Rambo” à sua obra.
Apesar disso, Stallone teve muita insegurança em relação ao filme e chegou a tentar comprar os direitos para destruí-lo antes de sua estreia. O ator temia que o longa-metragem fosse considerado tão ruim a ponto de destruir sua carreira. Mal sabia ele que se tornaria um dos maiores sucessos de sua vida.
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