Num dado momento da vida, começa-se a notar evidências cada vez mais inequívocas de que o amor é mesmo um acidente de percurso na solidão invencível de todos nós. A cada cena, “Which Brings Me To You” parece querer deixar claro que não é uma comédia romântica como as outras. Essa é uma manobra particularmente arriscada num gênero quase sempre feito da reciclagem de arcaicíssimos chavões, mas Peter Hutchings sabe onde está pisando.
A adaptação do romance para jovens adultos de Steve Almond e Julianna Baggott, publicado em 2006, mantém a essência do livro ao concentrar-se no exótico currículo de relacionamentos de um casal que vai se formando no transcurso de todo o enredo, seguido de muito perto pela audiência. A interação entre os protagonistas, aliás, é o que segura boa parte deste filme banal, mas esteticamente atrativo no modo como destaca a confusão emocional de uma e do outro. O roteiro de Keith Bunin ganha muito com a edição ousada de Jason Nicholson, que congela a cena sempre que eles aproximam-se do clímax de uma das desventuras amorosas que narram. Lamentavelmente, isso não basta.
Jane e Will não se conhecem, mas são padrinhos de casamento de amigos em comum. Desde o instante em que se encontram, os sinais de que este será o princípio de mais um caso rumoroso de fracasso no amor sucedem-se, a começar por um gato branco — que não estava morto, mas que continua imóvel, lagarteando num píer nos arredores da igreja —, o que nem por um segundo os desanima a sair dali para uma volta, depois de um episódio sexual frustrado na chapelaria do salão onde ocorria a recepção dos noivos. Um primeiro mal-entendido leva Jane a dispensar a carona de Will e sair por uma estrada de chão deserta, até que ele, claro, surge ao lado da moça e a convence a entrar no carro. Os dois vão a uma lanchonete, onde ela cura a carraspana com pedaços de torta de cereja e Will aproveita para barganhar a sua fatia pelo relato de uma das experiências de sua consorte improvável.
Hutchings dá corpo a um dos tantos flashbacks do longa, entremeando-os com as sequências nas quais Jane e Will vivem seus novos lances juntos. Ela, uma escritora freelancer de algum renome, tem pouco tempo e precisa entregar um artigo para a “Vanity Fair”, mas assim mesmo jamais se furta a mais um passeio, e esse descompromisso com a própria vida confere a Jane uma graça refrescante.
Ancorando sua carreira em comédias românticas descartáveis, mas bem-feitas, Lucy Hale apresenta rendimento semelhante ao visto em “Puppy Love” (2023), de Nick Fabiano e Richard Reid, ao passo que Nat Wolff, mais irregular, é hábil nas transições de humor de Will, que revela sua porção cafajeste num dos tantos retrocessos cronológicos, na virada do segundo para o terceiro ato. Não sei se isso faz de “Which Brings Me To You” algo divertido, no entanto. É decerto mais um passatempo para iniciados no gênero, e só.
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