Lançado um ano após a morte de Jane Austen, “Persuasão” mantém o charme característico dos romances que retratam a aristocracia do interior da Inglaterra. Austen, conhecida por usar protagonistas femininas como veículo para expressar suas percepções do mundo e suas críticas sociais, dá essa função em “Persuasão” a Anne (interpretada por Dakota Johnson), a filha do meio de três irmãs. Aos 27 anos, Anne ainda não encontrou um parceiro, algo que desperta a insatisfação de seu pai, Sir Walter Elliot (vivido por Richard E. Grant), um aristocrata viúvo e extravagante que, diante de dificuldades financeiras, procura um novo matrimônio para assegurar sua posição e o status da família.
Na tentativa de espairecer, Anne visita sua irmã mais nova, Mary Musgrove (Mia McKenna-Bruce), e acaba revendo o capitão Wentworth (Cosmo Jarvis), um antigo amor de juventude. O romance que tiveram anos antes foi interrompido pela pressão familiar, já que na época ele não possuía recursos financeiros. Contudo, passados oito anos, Wentworth retorna mais próspero, reacendendo sentimentos adormecidos em Anne, mas também trazendo à tona antigas feridas e ressentimentos. Apesar do amor que ainda sente, Anne percebe o capitão cada vez mais próximo de Louisa (Nia Towle), a encantadora cunhada de Mary. Para complicar ainda mais sua situação emocional, a chegada de um primo, Mr. Elliot (Henry Golding), surge como uma distração inesperada e oferece uma nova possibilidade.
Sob a direção de Carrie Cracknell, esta adaptação de “Persuasão” foge do convencional, apresentando uma narrativa moderna e repleta de humor. Essa abordagem, que rompe com o tom tradicional e formal dos romances de Austen, recebeu críticas de alguns especialistas, que a consideraram excessivamente cômica e a compararam a obras contemporâneas como “Fleabag”. O resultado foi uma pontuação de 5,8 no IMDb, reflexo de opiniões divididas. No entanto, essas críticas podem ser vistas como exageradas, pois Cracknell propõe uma leitura renovada, com toques de feminismo e jovialidade, sem perder de vista a essência da história.
Visualmente, a produção é um deleite: os figurinos em tons suaves e os cenários bucólicos oferecem um ambiente que exala romantismo e delicadeza, reforçando a ambientação da narrativa. Dakota Johnson traz à vida uma Anne cativante, com uma mistura de inteligência, humor e um toque de atrapalhação que a torna única. Em diversos momentos, a personagem quebra a quarta parede, convidando o público a compartilhar sua perspectiva e aproximando-o da sua experiência emocional.
“Persuasão” é uma obra que mistura doçura, humor e romance, proporcionando momentos de leveza e um refúgio bem-vindo em um dia cheio. A reinterpretação de Cracknell talvez não agrade a todos os puristas, mas oferece uma visão contemporânea e envolvente de um clássico atemporal.
★★★★★★★★★★