Considerado um dos 35 melhores filmes da história do cinema, drama da Segunda Guerra vencedor de 3 Oscars está na Netflix Divulgação / Focus Features

Considerado um dos 35 melhores filmes da história do cinema, drama da Segunda Guerra vencedor de 3 Oscars está na Netflix

O cinema polonês, desde seus primeiros registros, tem-se destacado pela capacidade de expressar, através de suas obras, temas de grande profundidade humana, mesmo quando silenciado pelas circunstâncias. Um exemplo pioneiro é o filme “Cultura Prussiana” (1908), dirigido por Mojżesz Towbin, que aborda a revolta estudantil de Września, ocorrida em 1901. Após ser censurado sob o regime do czar Nicolau II, a obra desapareceu e foi dada como perdida até ser redescoberta em 2000, em um arquivo de Paris, pelos pesquisadores poloneses Małgorzata e Marek Hendrykowski. Essa redescoberta, além de recuperar uma peça histórica, revelou um testemunho sobre as lutas pela liberdade na Polônia.

Ao longo de décadas, o país consolidou uma tradição cinematográfica que se desdobrou em um cinema engajado, frequentemente subversivo e sempre em diálogo com as complexidades políticas e culturais de seu tempo. Nomes como Andrzej Wajda, Krzysztof Kieslowski e Roman Polanski projetaram a Polônia no cenário internacional com obras que desafiaram convenções, provocaram reflexões e, em alguns casos, foram alvo de censura. Essa geração de cineastas não hesitou em explorar temas espinhosos, confrontando o público com questões morais e sociais urgentes.

“O Pianista” (2002), dirigido por Polanski, emerge dessa tradição cinematográfica com uma força especial. O filme não apenas retrata o drama do pianista Wladyslaw Szpilman, sobrevivente do Holocausto, mas reflete as próprias experiências de Polanski durante a Segunda Guerra Mundial. Quando ainda criança, Polanski escapou de um campo de concentração, em um episódio que marcou profundamente sua vida e que, décadas depois, ecoa nas cenas trágicas e poéticas de “O Pianista”. O filme se baseia na autobiografia de Szpilman, mas também parece dialogar com as próprias memórias do diretor, compondo um acerto de contas pessoal e histórico.

Szpilman, interpretado por Adrien Brody, é um artista resiliente, cuja história se entrelaça com a de Polanski e com o legado de Frédéric Chopin, outro polonês exilado na França. Em 1939, enquanto Varsóvia era bombardeada pelas tropas alemãs, Szpilman tocava uma obra de Chopin em uma estação de rádio, um gesto simbólico que revelava sua resistência silenciosa. O compositor, que no século anterior também representava a identidade polonesa, parecia ressoar como uma promessa de liberdade, unindo, de forma involuntária, três figuras cujas vidas foram moldadas por contextos de opressão.

A performance de Adrien Brody é um dos pontos altos da obra. Ele imprime ao personagem uma dignidade quase arrogante, desafiando a opressão nazista com uma presença altiva e uma fidelidade inabalável a seus valores. A escolha de Szpilman em recusar um cargo oferecido pelos nazistas intensifica seu conflito interior, enquanto Polanski conduz o espectador pela trajetória angustiante do pianista que, como ele próprio, fugia constantemente do terror e sobrevivia graças ao auxílio de membros da resistência. A atuação de Brody, em suas interações com Wilm Hosenfeld, o oficial nazista interpretado por Thomas Kretschmann, transcende a mera encenação; torna-se um duelo de humanidade contra o absurdo.

O pano de fundo para essa narrativa é uma Polônia devastada pela guerra, cujas ruas e escombros servem de palco para uma história que apenas a realidade poderia conceber. É nesse ambiente que Polanski, com seu olhar único, mistura brutalidade e lirismo, tecendo um retrato comovente de sobrevivência.

Filme: O Pianista
Diretor: Roman Polanski
Ano: 2000
Gênero: Biografia/Drama/Guerra
Avaliaçao: 10/10 1 1
★★★★★★★★★★