Durante muito tempo eu gostava muito de ler deitado. Pegava o livro, me deitava na cama ou mesmo no sofá e é claro que adormecia em cinco minutos, com o livro caindo na minha cara. Em determinado momento da vida, concluí que a melhor posição para se ler um livro é sentado numa boa poltrona, de preferência naquelas com braços. Atualmente eu tento, na maioria das vezes, ler dessa maneira.
Pois outro dia eu estava passeando na rua, quando assisti a uma cena inusitada: um sujeito lia um livro andando. Sim, ele seguia o seu caminho com os olhos enfiados em um livro, como se isso fosse a coisa mais normal do mundo. Acompanhei o rapaz por algum tempo, achando que logo testemunharia um abalroamento, o cara batendo de cara em um poste, numa árvore ou em um passante, mas não aconteceu nada disso. Ele seguiu lendo o seu livro tranquilamente, devia ter alguma espécie de GPS interno. E pior, o cara andava em um ritmo mais rápido do que o meu!
O certo é que eu, apesar de ler muito, nunca elegi as minhas caminhadas como um bom momento para ler um livro. Na verdade, acho que nunca li livros em pé, mesmo parado! É claro que leio durante deslocamentos, mas sempre devidamente sentado. Gosto de ler quando viajo de avião, por exemplo. No entanto, nunca consegui ler quando estou em carros ou ônibus, fico super enjoado. Já em trens é legal, mas no Brasil não se anda muito de trem, só quando se pega metrô, onde só leio quando consigo um lugar para me sentar, o que é difícil de acontecer.
Fiquei pensando no que levava o rapaz a ler andando, talvez ele fosse um leitor tão compulsivo que não podia perder tempo de leitura nem quando se deslocava de um lugar para outro. Ou quem sabe aquele fosse o único tempo que ele tinha para conseguir ler um livro. Depois de algum tempo pensando, cheguei à conclusão que não era nada disso. Ele lia dessa maneira só para que pessoas como eu ficassem pensando em fazer o mesmo e perguntando: “Como é que ele faz para não tropeçar quando tem que mudar de página?”