Sylvester Stallone descobriu uma mina de ouro com “Rambo”. Em cinco filmes, distribuídos por quase quatro décadas, as histórias de John Rambo, um veterano da Guerra do Vietnã (1955-1975) obrigado a lutar contra fantasmas, imaginários e reais, dos tempos no front, renderam cerca de setecentos milhões de dólares, e Stallone cacifou-se de uma vez por todas como um dos grandes astros do cinema macho, valendo-se de seus músculos e, goste-se ou não, de uma disciplina nem tão comum em gente do seu perfil. Stallone inaugurou a franquia pela qual seria identificado até hoje com “Rambo — Programado Para Matar” (1982), dirigido por Ted Kotcheff, na qual dá uma prova de que estava mesmo no lugar certo e na hora precisa.
Os Estados Unidos urgiam por levar o moral de seu povo após a derrota no Sudeste Asiático, e uma série de longas protagonizada por um soldado genuinamente americano — ainda que não fosse um branco anglo-saxão e protestante — vinha a calhar. Três anos depois, “Rambo 2 — A Missão” corrobora a sensação de alívio e Stallone parece ainda mais à vontade no papel. Pelas mãos de George P. Cosmatos (1941-2005) a trama rasa nascida da pena de David Morrell ganha um verniz de romance de formação, tudo sempre dependendo da validação de Stallone. E ele não falha.
Em “A Missão”, Rambo é chamado pelo onipresente coronel Samuel Trautman vivido por Richard Crenna (1926-2003) para regressar ao Vietnã e libertar os prisioneiros de guerra americanos que continuam por lá. Ele tem apenas 36 horas para cumprir a tarefa, e ainda mais determinado e furioso que no filme de Kotcheff, Rambo terá uma pedreira a vencer caso queira obter sucesso, sem trocadilho. Stallone e o corroteirista Kevin Jarre fazem alusões à primeira aparição do ex-guerrilheiro, enfrentandoas tropas do xerife Will Teasle, de Brian Dennehy (1938-2020), uma esquadrilha de Apaches e tanques quando pretendia apenas descansar nas montanhas do noroeste do Pacífico ao fim do massacre do corpo e do espírito. Munido de arco e flechas explosivas, Rambo, claro, faz miséria no Vietnã. Cosmatos imprime um pouco de realismo a seu filme ao submeter nosso herói a sessões de tortura quando acaba capturado pelos vietcongues remanescentes do conflito com as tropas de Lyndon Johnson (1908-1973), porém todos sabemos que Rambo não se dobra aos registros históricos. E é assim que nascem as lendas.
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