O filme mais perturbador e arrepiante da história do cinema: você vai ter calafrios por 126 minutos na Netflix Divulgação / A24

O filme mais perturbador e arrepiante da história do cinema: você vai ter calafrios por 126 minutos na Netflix

O anseio por uma vida ordinária, livre de surpresas ou abalos, reflete o desejo humano de alcançar um estado de calmaria. Contudo, ao atingir esse equilíbrio, as inquietações internas encontram novas formas de manifestar-se. Mágoas adormecidas evaporam-se, dando lugar a uma esperança renovada, enquanto a busca pela felicidade — sempre tangível, mas escorregadia — prossegue. A existência se molda num ciclo contínuo de perdas e renascimentos, onde cada um, a seu modo, enfrenta lutos e persegue novos caminhos, apesar do peso das adversidades. Nessa jornada, mesmo as conquistas menores carregam valor, sendo buscadas incessantemente, como se a vida insistisse em testar a resiliência e a capacidade de reerguer-se após cada queda.

Em “Hereditário”, essa dinâmica assume proporções aterradoras, convertendo os dilemas familiares em uma tragédia de proporções míticas. Sob a direção de Ari Aster, o filme constrói um universo onde as emoções reprimidas fervilham lentamente, até transbordarem em um horror visceral. Aster orquestra uma narrativa em que os segredos e os traumas de gerações convergem em um confronto inevitável. A trama envolve o espectador em uma tensão crescente, misturando elementos de terror psicológico e um suspense hipnótico, que ultrapassam as convenções do gênero. O resultado é uma obra que não apenas desafia a mente, mas também afeta o corpo, exigindo resistência emocional até seu desfecho perturbador.

Aster combina um texto autoral com uma estética narrativa que remete aos contos macabros de Poe e ao terror cósmico de Lovecraft, em que o inexplicável domina. “Hereditário” começa com um prólogo sombrio, que sugere uma atmosfera de desgraça iminente. O relato inicial, aparentemente rotineiro, logo se desdobra em uma análise complexa das relações humanas, tecendo um enredo onde o segredo e o mistério se entrelaçam. A morte da matriarca, figura central, é o estopim que desvela camadas de horrores enterrados, forçando cada personagem a confrontar suas próprias limitações e fragilidades.

Annie, interpretada com intensidade por Toni Collette, é o núcleo emocional da história. Ela luta contra o peso das expectativas e das perdas acumuladas, enquanto tenta manter uma fachada de normalidade. Ao lado de Steve, vivido por Gabriel Byrne, forma um casal cuja relação, à primeira vista, aparenta solidez, mas que, na verdade, está prestes a ruir sob o peso de segredos não ditos. A complexa dinâmica familiar é agravada pelos filhos, Peter e Charlie, cujas presenças introduzem novas camadas de tensão e tragédia à narrativa.

No terceiro ato, Aster revela suas intenções, expondo a fragilidade dos vínculos familiares e as pressões que o cotidiano impõe às relações. Alex Wolff entrega uma performance impactante, capturando com maestria a transformação de seu personagem, culminando em um clímax que reverbera muito além da tela. Aster tece uma trama que desafia as expectativas, deixando o público com uma sensação de inquietação duradoura, questionando os limites do que é suportável.

Filme: Hereditário
Diretor: Ari Aster
Ano: 2018
Gênero: Drama/Mistério/Terror/Thriller
Avaliaçao: 10/10 1 1
★★★★★★★★★★