A arte é uma ponte que liga o ser humano a si mesmo, aos outros e à realidade, refletindo e moldando os rumos da sociedade. No entanto, em tempos de censura velada, artistas de todas as vertentes enfrentam o desafio de redesenhar suas mensagens para evitar a patrulha do politicamente correto. A relevância passou a ser medida pela capacidade de adaptação ao consenso, reflexo de uma era marcada pela insegurança.
Palavras antes ignoradas invadiram o cotidiano, repetidas com fervor, evidenciando a tendência humana de se proteger em grupo. Simultaneamente, conceitos que alimentam a decadência moral encontraram espaço para minar os pilares de democracias sólidas, possíveis apenas quando o pensamento crítico prevalece. Assim, a sociedade contemporânea se ajusta a um ritmo vertiginoso, ditado por uma realidade pós-moderna repleta de contradições.
Hoje, ecos de regimes autoritários persistem, mesmo décadas após o fim trágico de figuras como Benito Mussolini. Executado em 1945, o Duce permanece como símbolo de opressão e corrupção, amado por alguns e temido por muitos. O diretor Renato De Maria, em “Roubando Mussolini” (2022), explora esse legado através de uma narrativa que expõe o lado menos discutido do fascismo: a ganância desmedida.
A trama, situada nos dias finais da Segunda Guerra, acompanha Isola, um ladrão decidido a roubar a fortuna secreta de Mussolini. Entre perigos e alianças improváveis, a história revela uma Milão devastada, onde até os mais ferozes defensores do regime mostram rachaduras em sua lealdade. O roteiro combina ação e reflexão, com uma trilha sonora evocativa que enriquece o ambiente e destaca os dilemas humanos em meio ao caos.
Apesar de Mussolini ter caído há quase um século, o fascismo persiste em formas sutis. De Maria utiliza sua obra como um lembrete de que, enquanto a memória histórica for seletiva, os perigos da intolerância e do autoritarismo continuarão rondando. A ficção oferece espaço para explorar um futuro em que ideologias opressivas possam, enfim, ser erradicadas, assim como Tarantino reimagina o fim do nazismo em “Bastardos Inglórios”.
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