Entre partidas e permanências, Michihito Fujii explora em seu novo longa o que resta quando a linha entre a existência e a ausência é cruzada. Trata-se de um sentimento que não se mede, um elo imaterial que resiste ao tempo e conecta os que partiram aos que ainda caminham por aqui.
“A Saudade que Fica” propõe um olhar poético e doloroso sobre um dos momentos mais desafiadores da experiência humana. Fujii, nome de destaque no cenário japonês contemporâneo, dá forma a uma narrativa que mistura a dor da perda com a beleza da memória. A história é habitada por personagens que enfrentam seu destino de forma única, cada um preso a questões não resolvidas. A trama explora as fronteiras da vida e da morte, evidenciando que até o último suspiro é apenas o início de uma nova etapa.
A jornada de Minako, personagem de Masami Nagasawa, inicia-se em uma praia coberta de destroços. O que parece um naufrágio logo revela ser algo mais profundo. A busca por seu filho, Ryo, traz à tona uma ausência que ecoa como se fosse eterna. Essa ausência se mistura ao novo mundo onde Minako descobre estar: um limbo habitado por almas com histórias interrompidas.
É nesse ambiente que se juntam Akira, jovem inquieto; Shori, um poderoso chefão da Yakuza; e Michael, um cineasta com personalidade marcante. A dinâmica entre os quatro desafia a lógica terrena, construindo uma narrativa que mescla absurdos cômicos com reflexões profundas. Por meio de desfiles metafóricos, os personagens enfrentam seus fantasmas, enquanto Fujii pontua a narrativa com ironia e sensibilidade.
A partir da figura de Michael, Fujii costura camadas de significado, incluindo uma homenagem ao cineasta real que inspirou o personagem. A trilha cíclica de desfiles reflete a busca incessante por redenção e ascensão espiritual, enquanto o diretor equilibra o tom dramático com momentos de alívio. Em linhas delicadas, o longa se apresenta como um ensaio sobre as despedidas inevitáveis e os vínculos que persistem, por mais tênues que sejam.
★★★★★★★★★★